quinta-feira, 7 de maio de 2020

Não fosse a imprensa, o Congresso, o STF, a OMS e a PF, esse governo decolava

O bolsonarismo permite tudo, menos o mimimi. Direitos humanos é vitimismo, racismo é frescura, homofobia é viadagem. Nesse país todos têm oportunidades iguais —a não ser, é claro, o presidente da República. Para o bolsonarista, o Brasil é um país de marajás governados por um eunuco. Não está difícil para ninguém —a não ser para esse homem branco, rico de meia-idade que se aposentou aos 33 anos de idade. Força, guerreiro.

Ah, se o trabalhador soubesse como é duro ganhar mais de R$ 30 mil por mês e não ter com o que gastar porque tudo já está pago! E, pra piorar, ainda aparece o motorista e deposita R$ 40 mil pra sua mulher! Dura a vida do homem público.


Bolsonaro não consegue governar —segundo ele mesmo— por causa do STF, do Congresso, do Ibama, dos inimigos, dos aliados, da esquerda, do centrão, dos governadores, da OMS, do pessoal dos direitos humanos, da Polícia Federal, da Globo, da Folha e do Leonardo DiCaprio.

No futebol, faz parte do jogo atribuir a derrota ao juiz. Estranho, no entanto, atribuir a derrota à torcida adversária, ao formato da bola, ao tamanho do gol, ao tecido do uniforme e à cor verde da grama. “A gente tenta fazer gol, mas toda vez vem aquele cara e pega a bola com a mão.” “O goleiro?” “Isso.”

Antes da pandemia a gente já estava diante de um 7 a 1 —PIB estagnado, real desvalorizado, escândalos de corrupção na família e no partido. Com a situação atual, o presidente tinha que estar aos prantos implorando clemência, como David Luiz no Mineirão: “Eu só queria poder dar uma alegria pro povo”. Quem dera.

Bolsonaro é um tipo de zagueiro que, quanto mais leva gol, mais anima sua torcida, que não entende direito as regras do jogo e comemora qualquer bola na rede. Lembra Junior Baiano, que, segundo o próprio, não fazia gol contra: fazia golaço contra. Não achava tão relevante o fato da bola balançar a própria rede. Talvez não fosse, mesmo. Pra quem assistia a futebol pelo furdunço, era um zagueirão.

Pela lógica tradicional, Bolsonaro já teria sido derrubado. Nunca um presidente conseguiria escapar de um fracasso econômico aliado a acusações tão contundentes partindo de gente do próprio campo. Na lógica bizarra do rebanho, Bolsonaro acerta quando erra, ganha quando perde e renasce quando morre.

“Se todo o mundo está contra ele, é porque ele deve estar fazendo alguma coisa certa”. Nem sempre. Às vezes ele é só um psicopata oligofrênico e narcisista. E você gosta dele porque também é.

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