E daí? São apenas 13 mil mortos, como diria o ex-ministro e deputado Osmar Terra. Infelizmente, não são apenas números. Os números encobrem faces, encobrem sonhos dissipados, encobrem famílias destroçadas, encobrem amores interrompidos. Os números encobrem vidas. Vidas não se contam em dúzias, senhor deputado.
A nossa pátria mãe gentil está em prantos. Choram Marias e Clarisses, como cantaram Aldir Blanc e João Bosco. Choram as voluntárias carpideiras, como choravam nos velórios em “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Chora o povo brasileiro por seus mortos improváveis.
Choram Marias e Clarisses por Aldir Blanc, Flavio Migliaccio, Daisy Lúdice, Daniel Azulay, Abraham Palatnik, Jesus Chediak, Ciro Pessoa, Sergio Trindade, Naomi Munakata, Florindo Coral, Dom Aldo Pagoto, Gerson Peres, Carlos José, Sergio Campos Trindade, Ricardo Brennand e Sérgio Santana.
Onde está Regina? Protegida em sua redoma, respirando o oxigênio de seu individualismo e de seu egoísmo, e, sem compaixão, cantando “Todos juntos, vamos pra frente, Brasil”.
Sem poder velar e despedir de seus mortos, familiares mascarados choram por Denifrank, William, Rodolfo, Walter, Valdemar, Antônio, Antônia, Alvanei, Warney, Wesley, Wirciley, Valnelson, Nyelsen, Nelson, Deison, Emerson, Adonias, Zacarias, Yvone, Claudio, Jayme, Romério, Alzira, José Raimundo, Ismênia Benta, João Carlos, Ivor, Thiago, Álvaro, Adélia, Adelita, Valdomiro, Ivanildo, Lúcia, Francisca, Aisian, Viviane, João Faustino, Mariano, Osório, Gregório, Herondina, Djalma, Alan Patrick, Frederic, Cesar, Orlando, Fernando, Eduardo, Evandro, Sandro, Damasceno, Diógenes, Adalberto, Albert, Cristóvão, João, Javier, José Francisco, Sérgio Henrique, Luiz André, Benedito, Marcinho Osório, Demétrio, Alípio, Nino, Jorge Luiz, Maurício, Mário, Bruno, Matheus, Joaquim, Manuel, Messias, Altamiro, Maria Altamira, Maria Aparecida, Maria Madalena, Maria Rúbia, Maria Joana, Maria Lúcia, Maria da Conceição, Conceição, Resneider, Douglas, Victor, Erlim, Raquel, Larissa, Rafael, Priscila, Aflodísia, Diva, Tarcizo, Seisho, Sueli, Marcel, Lia, Marilda, Olinda, Quezia, Nilce, Solon, Maryulda, Maryellen, Milene, Ana Lúcia, Juliana, Gil e Ana.
De madrugada, o presidente assombrado acorda de um pesadelo infernal. Sentia vírus gigantes entrando por sua boca, suas narinas, seus ouvidos e seus olhos. Eram milhares deles, em forma de microanões em disparada invadindo seu corpo. Levanta-se, fica em pé sobre a cama, põe as mãos nas suas têmporas, com expressão de pavor, como no quadro de Munch, e solta seu grito de medo: e daí?
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