sexta-feira, 22 de maio de 2020

Covid e caserna

Graças a Jair Bolsonaro, atualmente na Presidência da República, o Ministério da Saúde está sendo ocupado pelos militares. Significa que, por falta de gente do ramo, leia-se médicos, no comando, a Covid-19 continuará rompante no país. Mas faremos alguns progressos. Nos hospitais, por exemplo, os pacientes serão acordados a corneta. Haverá juramento matinal à bandeira, rufo de tambores à visita de um coronel e revista diária de tropas, digo, enfermeiros, pelo oficial de serviço.


O que nos leva a uma pergunta. Já que nossos generais não acreditam em besteiras como confinamento, quarentena e distanciamento social, e não se conformam com que os escritórios, fábricas, igrejas, lotéricas e até manicures estejam parados, como anda a coisa entre eles? A julgar pela nova orientação do ministério, os militares não devem estar impondo ao seu pessoal os cuidados que muitos de nós, paisanos covardes, achamos prudente seguir.

Assim, pode-se imaginar que, neste momento, os quartéis estão cheios de rapazes marchando juntos, fazendo ginástica juntos, dando tiro juntos, dormindo juntos e acordando juntos, e também tossindo, assoando-se e espirrando juntos. Um soldado e um cabo, capazes de fechar sozinhos o STF, levarão a mão à testa centenas de vezes por dia, de acordo com o número de continências que terão de bater para o sargento. Não é um risco?

Mais perguntas. Se se distribuir máscaras à tropa, serão de lona verde-oliva para combinar com a farda? Fuzis e granadas estão sendo higienizados? Cavalos são sujeitos à Covid? E como vai o estoque de cloroquina na caserna? Sabendo-se que o Chefe Supremo das Forças Armadas é um camelô especializado na droga, ela deve estar sendo servida compulsoriamente no rancho.

Bom sinal. Sinaliza que o governo talvez comece a cuidar de parte da população. Pena não ser a minha parte. Não passo de um reles reservista de terceira.
Ruy Castro

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