Vamos ver se nos entendemos, de uma vez por todas: se só temos pouco mais do que 1% da população infetada, existem, teoricamente, 85 a 90% de pessoas em grande risco de infeção. Os melhores especialistas em infeciologia e epidemia do mundo admitem que, por cada caso confirmado, há mais 10 com o vírus. Aplicando a regra ao nosso país haverá já 240 mil pessoas contagiadas, ainda que assintomáticas, ou numa das várias fases, pouco conhecidas, do caminho que este vírus faz até à Covid-19.
Não estando o país em quarentena, a única medida cientificamente provada como redutora da pandemia, vamos atirar para cima do SNS um risco catastrófico. Apesar de tudo ter começado (só) a 16 de Março, data da primeira morte, e com todo o esforço que foi e está a ser feito, Portugal está muito longe de ter um Serviço Nacional de Saúde plenamente capacitado e pronto para responder a um aumento exponencial de doentes em fase crítica. E também já sabemos que 50% dos internados em Cuidados Intensivos não resistem.
Somam-se mais duas interrogações: não está provada a imunidade de quem já foi contagiado, o que multiplica o risco de transmissão, e a famosa e tenebrosa ideia de imunidade de grupo implicaria que no mínimo 70% dos portugueses teria de se infetar e, obviamente, muitos milhares morreriam.
O Estado de Emergência vai acabar, e o Governo vai decidir pela calamidade (que grande ironia!), esta semana, e fasear a abertura do país. Estará na posse, acreditamos, das mais ponderadas e sensatas recomendações dos especialistas. Nenhuma dúvida. Mas também não haverá nenhuma hesitação, de que cairá sobre ele – Governo, a ministra da Saúde, a DGS, e outras entidades – a culpa máxima por uma decisão mal tomada, apressada, infundada. A existir uma calamidade nacional, o Governo será o responsável único, direto, e sem perdão.
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