A luta contra o coronavírus, a vida em meio à pandemia e a sobrevivência a essa ameaça são uma corrida de longa distância. Isso é algo que desafiará por muito tempo tanto as sociedades como os políticos – nacional e internacionalmente. E o meio político busca conselhos de especialistas. Mas até onde isso vai?
O aplauso ostensivo das varandas e das janelas já foi há muito tempo. Destinava-se às equipes sanitárias, médicos, enfermeiros, por seu trabalho, cujo perigo ninguém pode e poderá prever. Somente na Itália, mais de 150 agentes de saúde morreram. Houve aplausos e gritos pelos heróis. Mas heróis não são suficientes, pelo menos para uma sociedade midiática. Ela procura estrelas que se pode construir, mas também derrubar. Os virologistas se tornaram as estrelas desse primeiro estágio da crise do coronavírus.
A Alemanha pode se dar por satisfeita com o que tem a oferecer em termos de cientistas e também de jornalismo científico. Assim, foram divulgadas dicas que, em sua simplicidade, que todos podem implementar: lavar as mãos, evitar multidões, manter distância física mesmo na vida privada. Portanto, houve participação na pesquisa acadêmica através da ação.
Consequentemente, também houve ganho de conhecimento em tempo real, com – e isso que pertence à ciência – tentativa e erro, com hipóteses, com sua refutação, com declarações concorrentes.
Dessa forma que a questão sobre o uso de máscaras, por exemplo, foi virada ao contrário desde março. E há muitas perguntas que os especialistas ainda não sabem responder e pedem, por elas, paciência. Independentemente disso, há muito que eles são estrelas – classificados em rankings por recepção da comunidade científica e presença na mídia. E também tendencialmente pelo fator carismático. E quem for o primeiro a desenvolver uma vacina – em Berlim ou Bonn, Oxford, Paris ou Wuhan – passará de estrela a messias na mídia.
Os políticos também são responsáveis pelo fato de os pesquisadores terem entrado nesse papel. Claro: para impor o impensável e até a restrição dos direitos civis básicos em muitas áreas, o meio político, o governo federal procurou o apoio e aconselhamento de virologistas e depois também de representantes de outras áreas científicas. Mas a ação, a questão das decisões concretas, depende do setor político – e apenas dele. Os especialistas podem fornecer expertise, a mídia pode transmitir informações, ponderar e expor opiniões. Mas a classe política é que tem que agir. É para isso que os políticos são eleitos e para isso recebem um cargo temporário.
Em um mundo cada vez mais confuso, o conhecimento especializado é importante e se torna cada vez mais importante. Existe uma variedade a perder de vista de tais grêmios. Há 20 anos, o então chanceler alemão Gerhard Schröder criou o Conselho Nacional de Ética, devido às grandes questões da biomedicina, que mais tarde se tornou o Conselho Alemão de Ética. Logo após a posse, a chanceler Angela Merkel valorizou a pouco notada Academia Nacional de Ciências, a Leopoldina. Estes são apenas dois exemplos das últimas décadas.
Certamente, que as responsabilidades do setor político incluem incertezas, decisões abertas, agir a partir do que se sabe no momento, como costuma ser dito nessas semanas. Isso não está tão longe da possibilidade de erro que integra a prática científica. Faz parte de um dos muitos momentos impressionantes do ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, o modo aberto com que ele falou no Bundestag, em 22 de abril, sobre o possível erro de algumas decisões, pelas quais talvez seja preciso pedir desculpas posteriormente. Mostrou grandeza. Ele falou de si mesmo – não dos cientistas.
É por isso que as aparições e a competição entre os virologistas na luta contra a pandemia permanecem apenas um aspecto marginal. São importantes, mas não cruciais. Isso é coisa que o meio político pode e deve tranquilamente dizer mais claramente em tempos de uma sociedade fundamentalmente abalada. As ações dos políticos, do Bundestag e dos parlamentos permanecem decisivas. No início de um período legislativo, os presidentes do Bundestag costumam lembrar da alta responsabilidade de todos os legisladores. Eles agora também carregam uma responsabilidade. Agora até mais do que nunca.
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