quarta-feira, 29 de abril de 2020

Futebol para calar genocídio

A federação francesa de futebol cancelou o campeonato, liderado pelo Paris Saint Germain, dos brasileiros Neymar e Thiago Silva. Também estão suspensos, ainda sem definição, os torneiros nacionais da Alemanha, Itália, Portugal e Inglaterra. E La Liga, o milionário campeonato espanhol, foi suspenso. Todos movimentam milhões de euros e gastam outros milhões com suas equipes e estádios maravilhosos, praticamente lotados a cada jogo. Em tempo de pandemia, os europeus, e todos os países responsáveis por seus cidadãos, investem, como seus próprios jogadores fazem, em salvar vidas e garantir a quarentena. A volta aos campos mesmo sugerida em alguns deles, que já praticamente "controlaram" o coronavírus, gera severas críticas aos manipuladores de multidões.


No Brasil, este conhecido país fora do planeta Terra, que sofre apenas uma "gripezinha", Jair Bolsonaro, sob a chancela da CBF, está "estudando" a viabilização de um parecer do Ministério da Saúde, leia-se Nelson Teich, um perito da rede privada, para liberar a volta gradual de torneios de futebol com jogos sem público. A retomada, na contramão do mundo, do qual o país está cada vez mais isolado, e concorrendo a liderar o ranking de mortos, seria motivado pelo prejuízo dos clubes: "Não tem receita, bilheteria, não tem televisão”.

A preocupação governamental com o futebol faz-nos retornar no tempo, quando na ditadura Médici, o tricolor, adorava frequentar o Maracanã. Se extasiava diante daquela multidão, como se fosse o próprio ídolo em campo. E quando se gritava gol no estádio, se berrava de dor ou morte nas celas das prisões da ditadura. O futebol e a morte estavam juntos na foto do ditador no camarote presidencial.

A motivação de um presidente para a retomada dos jogos, em plena ascensão da pandemia no Brasil, é a fotocópia daquele passado. Messias, um ex-militar expulso da corporação, repete um dos seus ídolos ditatoriais e quer o povo, mesmo apenas pela televisão, em casa, se divertindo com o futebol, enquanto agora nos hospitais doentes com coronavírus e equipes de saúde lutam pela vida sob o cutelo da morte. Em segurança no Alvorada, infestado de ratos, vibrará com as jogadas em campo como o o ex-presidente militar no Maracanã, sob o mesmo signo de morte.

Médici e Messias são a mesma face da ditadura militar ou militarizada, que pode ser de golpe ou de eleição. Ambas só tem o compromisso com a defesa armada intransigente de seus propósitos contra os "adversários", os cidadãos que lhes pagam os salários, lhes sustentam a família - e no caso de Messias há 30 anos lhes dão emprego - e não têm direito à vida mas o dever patriótico de se calar. E bater continência, claro.
Luiz Gadelha

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