Estou escrevendo, Bozo, porque eu estava aí, no auge da carreira, estrelinha de novela, quando o pau quebrou. Os militares fecharam o Congresso e milhares de intelectuais, estudantes, políticos, sindicalistas, foram postos em quarentena nas prisões. O vírus da época era a ditadura. Eu vi o filme que te inspira, meu caro, sei muito bem o que você fez no verão passado e o que você está ensaiando repetir. Sofri na pele com os teus ídolos. Em 69, meia dúzia de meses depois do AI-5, dei uma entrevista prum pasquim aí do Rio. Nada que outras mulheres já não estivessem dizendo e vivendo em Ipanema, na PUC, mas em jornal era novidade. Zero de política. Não mandei a gurilada tomar onde quer que fosse. Eu queria apenas a liberdade de viver do meu jeito. Disse, por exemplo, que podia ser feliz com um homem e ir pra cama com outro. Que não estava casada, que na minha cama passavam uma noite e eu mandava embora.
Foi no tempo em que mulher não falava palavrão, e eu falava todos. Tudo mais suave que esses que você diz hoje pros jornalistas. Os caras do pasquim, quando publicaram a entrevista, no lugar dos palavrões colocaram asteriscos. A (*) ficou pior ainda. Deu a maior (*). As feministas e a esquerda me acharam uma (*) por estar falando em sexo numa hora daquelas. A família católica me chamou de (*). A milicada me achou uma (*) perigosa. Perdi todos os contratos, precisei abrir uma loja de roupa indiana na General Osório, e só voltei a trabalhar na televisão depois que assinei um documento no DOPS. Nele eu me comprometia com a polícia a nunca mais falar palavrão na televisão e em entrevista. Foi (*).
Hoje é meu aniversário, Bozo. A Elis Regina já me mandou um beijo, e eu devia estar comemorando na nuvem da Elke Maravilha. Estou passando aqui para mandar um (*) básico e dizer, meu caro, que vi o teu discurso na televisão ontem. Assustador. Parecia a cena de um filme que fiz com o Nelson Pereira, o “Azyllo muito louco”. É baseado num conto do Machado de Assis (já te ouço perguntando, “quem?”). É a história de um sujeito que interna toda a cidade num hospício, todos suspeitos de loucura, e no final acaba sozinho lá dentro porque, evidentemente, o louco era ele. Acho o filme a tua cara, Bozo, e com isso me despeço. Está dispensado de me dar os parabéns. Fica aí com o teu vírus e receba daqui o meu mais estridente panelaço."
Foi no tempo em que mulher não falava palavrão, e eu falava todos. Tudo mais suave que esses que você diz hoje pros jornalistas. Os caras do pasquim, quando publicaram a entrevista, no lugar dos palavrões colocaram asteriscos. A (*) ficou pior ainda. Deu a maior (*). As feministas e a esquerda me acharam uma (*) por estar falando em sexo numa hora daquelas. A família católica me chamou de (*). A milicada me achou uma (*) perigosa. Perdi todos os contratos, precisei abrir uma loja de roupa indiana na General Osório, e só voltei a trabalhar na televisão depois que assinei um documento no DOPS. Nele eu me comprometia com a polícia a nunca mais falar palavrão na televisão e em entrevista. Foi (*).
Hoje é meu aniversário, Bozo. A Elis Regina já me mandou um beijo, e eu devia estar comemorando na nuvem da Elke Maravilha. Estou passando aqui para mandar um (*) básico e dizer, meu caro, que vi o teu discurso na televisão ontem. Assustador. Parecia a cena de um filme que fiz com o Nelson Pereira, o “Azyllo muito louco”. É baseado num conto do Machado de Assis (já te ouço perguntando, “quem?”). É a história de um sujeito que interna toda a cidade num hospício, todos suspeitos de loucura, e no final acaba sozinho lá dentro porque, evidentemente, o louco era ele. Acho o filme a tua cara, Bozo, e com isso me despeço. Está dispensado de me dar os parabéns. Fica aí com o teu vírus e receba daqui o meu mais estridente panelaço."
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