quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Coliseu virtual

Vem crescendo nas redes sociais a prática do chamado “cancelamento” – ato de boicotar uma pessoa com o intuito de causar seu esquecimento ou prejuízos à sua imagem.

O fenômeno teve origem nos Estados Unidos, em meados de 2017, quando celebridades acusadas de assédio foram atacadas e desprestigiadas no Twitter, como ocorreu com o cineasta Woody Allen. Nesses casos, o cancelamento tem um aspecto positivo ao promover o debate sobre temas relevantes como o abuso sexual e o preconceito.

A partir daí, o modismo norte- americano foi importado para o Brasil e tem sido modificado pelas peculiaridades de um país politicamente polarizado. O caso mais emblemático por aqui foi o da cantora Anitta, linchada na internet por não ter posicionado contra Jair Bolsonaro em defesa de grupos LGBT na época das eleições de 2018.

Nem Nelson Mandela escapou. O ícone da resistência negra foi cancelado pelos membros do Movimento Brasil Livre (MBL). O grupo tachou o líder político como “terrorista” ao se referir à luta revolucionária dele na África.

A atriz Alessandra Negrini entrou no radar dos “canceladores” nos últimos dias por ter usado uma fantasia de índia no Carnaval. Lideranças indígenas deram uma lição ao dizerem que se deve diferenciar quem se apropria da cultura para diricularizá-la de quem empresta seu corpo a serviço das causas mais urgentes.

Essa estratégia expõe a fragilidade da linha que separa o público e o privado nos tempos atuais.

Além dos alvos famosos citados, pessoas comuns perdem emprego e a liberdade ao serem expostas na rede por se desviarem minimamente de cartilhas ideológicas.

Além disso, cancelar alguém por simples discordância ou deslize retórico é encerrar o debate. É bater o pé e fazer birra. Atitude que não é bem-vinda em uma sociedade democrática.

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