No screenshot da tela de celular publicado por Vera Magalhães, é possível ler: “– 15 de março. – General Heleno/Cap Bolsonaro. – o Brasil é nosso. – Não dos políticos de sempre”. O texto era a introdução para apresentar o vídeo, que apela para a emoção com imagens de Bolsonaro sendo esfaqueado durante a campanha de 2018, imagens dele no hospital, entremeadas de legendas como “Ele quase morreu por nós”, “Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós”. Vem ainda com adjetivos como “patriota”, “cristão” e chamando para mostrar “a força da família brasileira” e para rejeitar “os inimigos do Brasil”.
A manobra, que repete o estilo adotado por Bolsonaro desde a sua campanha eleitoral, pode, no limite, configurar crime de responsabilidade pela legislação brasileira, que proíbe a um presidente cometer atos que atentem contra a Constituição e contra o “livre exercício do Poder Legislativo”. A manifestação, porém, já estava sendo incentivada por bolsonaristas desde antes da refrega do General Heleno na semana passada.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se manifestou no Twitter alegando uma possível crise institucional pelo fato de o próprio presidente convocar uma manifestação. FHC, porém, escreveu que Bolsonaro tuitou, mas na verdade ele partilhou o vídeo do seu celular. “A ser verdade, como parece, que o próprio Pr tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso ( a democracia) estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto de tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo.”
De folga no Guarujá, litoral paulista, Bolsonaro buscou interação popular passeando de moto pela cidade, e cumprimentando apoiadores na cidade e também na vizinha Praia Grande. Partilhou também imagens de homenagens de apoiadores durante o Carnaval. A festa, porém, teve mais registros de protestos contra ele, inclusive com uma escola de samba do Rio de Janeiro, São Clemente, fazendo uma crítica direta a sua figura, protagonizada pelo humorista Marcelo Adnet.
Até as 22h23 o presidente não havia se manifestado sobre o vídeo, nem os seus filhos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e David Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, também preferiram os silêncio nas redes sociais. O assunto deve pautar a quarta-feira, num momento em que o Brasil encara a possibilidade de ter um primeiro caso concreto de coronavírus, algo que afeta o humor nacional, bem como o ambiente econômico.
A crise aberta na semana passada pelas falas do general Heleno contra o Congresso, assim como a convocação do ato do dia 15, também abriram outra frente de tensão dentro do Exército. O ex-ministro da Secretaria do Governo, General Santos Cruz, mostrou-se irritado com a divulgação de um banner sobre a manifestação que sugere o apoio do Exército ao ato. Nele, se lê “Vamos as (sic) ruas em massa. Os generais aguardam as ordens do povo. Fora Maia e Alcolumbre”. Santos Cruz partilhou a imagem nesta segunda, 24, e escreveu em seu twitter: “IRRESPONSABILIDADE Exército Brasileiro - instituição de Estado, defesa da pátria e garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a população.”
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