É verdade que resolver os problemas não é fácil. As chuvas no Brasil caem com muita força, o solo desliza facilmente, e a urbanização desordenada dos últimos 50 anos, com muitas casas construídas de forma ilegal nas encostas, dificulta qualquer ação das autoridades. E retirar moradores de áreas de risco geralmente gera conflitos – principalmente porque não há uma oferta de moradias alternativas para essas pessoas. E, tendo em vista o número grande de construções nessas condições, solucionar o problema realmente demanda um esforço gigantesco.
Mas há, também, um aparente despreparo das autoridades, ou, talvez até uma certa indiferença. Os problemas não são novos – então por que não se vê um esforço para solucioná-los? Em 2019, o governo federal usou apenas um terço dos recursos previstos no orçamento para prevenção de desastres naturais, atingindo o menor patamar em 11 anos.
O governo federal joga a culpa para os governos locais, ou seja, estaduais e municipais, dizendo que eles não realizaram as obras previstas. O empurra-empurra de sempre. Fica a impressão de que resolver esses problemas não é prioridade para os governos.
Desde que cheguei ao Brasil, há 20 anos, os problemas são os mesmos, e pouco se fez para melhorar a situação. O esgoto toma conta dos rios que atravessam as cidades – até mesmo a mais rica de todas, São Paulo, com os rios Tietê e Pinheiros fedendo a dejetos. Apesar de investimentos pesados, o problema continua. Falta saneamento básico.
No caso do Rio de Janeiro, nada de concreto é feito para resolver a poluição dos rios, lagoas e da Baía de Guanabara. Centenas de milhões de reais foram investidos na despoluição, mas o cenário continua o mesmo.
Recentemente, a situação até piorou, com o esgoto se misturando à água potável. Habitantes reclamam de doenças causadas pela água suja, procurando se abastecer com garrafas pet de água, produto escasso em muitos supermercados da cidade. Ambientalistas previam há anos a atual situação vivida pela segunda maior cidade brasileira. Mas o governo estadual nega que a água tenha ficado imprópria para o consumo. O governador Wilson Witzel simplesmente fala em "alarmismo".
Para o governo do Rio, lucrar com a prevista privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) é essencial para sair da crise financeira. Valorizar a estatal antes da venda parece ser prioridade para o governo, que, com a finalização da nova estação de tratamento de Gandu, espera mais que dobrar o valor da Cedae, para 15 bilhões de reais.
Enquanto a Cedae obteve um lucro histórico de 832 milhões de reais em 2018, as reclamações explodiram. Aparentemente existe um sucateamento das instalações, que provoca problemas de abastecimento. Há meses, a mídia relata problemas na estação de Guandu, onde, desde o começo de janeiro, o esgoto se mistura à água potável.
Fica a impressão de que lucrar é mais importante do que resolver os problemas. E isso não é exclusividade dos governos. Os desastres de Mariana e Brumadinho levam a acreditar que empresas privadas tampouco colocam a segurança em primeiro lugar. Me pergunto: onde está a pressão popular para exigir uma melhoria?
Thomas Milz
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