São palavras supimpas. Estão lá, quietinhas no cemitério dos dicionários, e de vez em quando precisam vir aqui fora, numa página de jornal, tomar uma fresca e mostrar quão serelepes, doidivanas e bacanas ainda o são.
Salve a picurrucha e demais peraltas ressuscitadas a partir da declaração do xumbrega mequetrefe.
Um texto que se pretende moderno tem medo dessas estripulias. Acha datado demais e se pela de medo de soar muquirana. No lugar de trãchã, sonha-se cool. Qual tatuado transgênero escreveria "maçaroca" para resumir o Brasil?
Encafifado com a multidão de cognitivos no bojo dessas palavras, o intelectual deixa de lado as lindas sirigaitas do vernáculo. Elas só reaparecem como paralelepípedos, quando um tosco de poucas leituras, totalmente marmota, se vale da tradição oral dos mais velhos e esculacha como pirralha a espoleta sueca do meio ambiente.
É uma pena, mas desse forrobodó eu não abro mão. Como se fosse um passeador de cachorros, saio sempre com essas espevitadas que conheci na infância. De pura fuzarca, pelo prazer da coqueluche semântica, dou um saracoteio com elas pelas páginas dos livros e jornais. Elas se fazem songamongas, eu tiro uma chinfra.
Exibo-as, todo pimpão, vaidoso em lhes reconhecer o borogodó intrínseco. São minhas concubinas, durmo com elas. Nenhuma lambisgoia, muito menos patusca. Zero de borocoxô feeling. Inzoneiras. São senhoras dignas de poderem ter sido, quem sabe?, a musa daquela frase de um também desengavetador de teteias: "Outro dia", escreveu Mário Quintana, " uma palavra tirou a roupa e ficou nuinha pra mim".
Está cada vez mais próximo o dia em que palavras assanhadas, assim como as galochas, serão estrovengas escangalhadas, coisas de senhores caquéticos desatualizados com a contemporaneidade. O mundo está rápido demais para que se espere alguém terminar de pronunciar a palavra "catiripapo". "Inconstitucionalissimamente", por exemplo. Com a sua capacidade de ser ao mesmo tempo pompa e palavrão, seria perfeita para resumir o Brasil de hoje - mas quem ousaria? Não há tempo para tamanho esquartejamento de sílabas.
Neste momento de prezo ao tatibitate, uma start-up pesquisa nova geração de emojis. Eles não divulgarão apenas os sentimentos, se alguém está macambúzio ou estupefato. O emoji será a gramática do futuro, dará o recado do que vai na língua de cada um como se fosse uma abreugrafia digital. A palavra, principalmente a rechonchuda, esse maravilhoso pandemônio polissílabo, terá a mesma importância que o Durma Bem no enfrentamento do mosquito da dengue. Flopou.
A urticária também parecia ser companheira eterna do homem na Terra - e nunca mais foi diagnosticada. Qual o último médico que receitou vermífugo?
Essas palavras se empanturravam de letrinhas, pacificavam as índoles como se banhadas em camomila afetiva. Eram parrudas. A língua, sem preconceitos, metia-se onde não era chamada e lambia-lhes sovacos, cocurutos e demais idiossincrasias. Todas as palavras cabiam na boca do brasileiro. Aos poucos, foram desidratadas, trocadas pela urgência do "pq", "ñ", "tbm", "blz", "brs" e demais necessidades de se viver em estado de tweet. No país do "tá ok", a língua foi atrás. Ficou curta. Deu ruim. Furreca.
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