O tamanho do homem
Diz-se que o Sátrapa oriental ganhou, de outro potentado, um corte de maravilhosa seda, rara e transparente. Chamou imediatamente o alfaiate da corte e perguntou-lhe o que podia fazer com tal fazenda. O alfaiate examinou bem a fazenda, mediu a fazenda, mediu o tirano e disse-lhe, contrafeito, que o pano não dava para mais do que um colete. O Sátrapa estranhou, mas não disse nada. Meses depois, viajando por uma província distante, levou consigo a fazenda e consultou célebre alfaiate da região. O homem examinou a peça e disse que com ela poderia fazer uma toga. O tirano pegou, então, a fazenda e, numa viagem que fez a um pais vizinho, consultou outro alfaiate. Este lhe disse que a fazenda dava para uma toga e um colete. Já excitado em sua curiosidade, o Sátrapa esperou uma viagem que fez para o ponto mais distante a que jamais viajara, um pais do Ocidente, que até então lhe era completamente hostil, e lá consultou também um famoso alfaiate. Este, depois de examinar rapidamente a seda, disse-lhe que com ela poderia fazer uma toga, uma túnica, um colete, vários lenços e um turbante. O tirano então não se conteve e perguntou:
- “Como se explica, ó mestre, que você com esse pano possa fazer tanto, se o alfaiate da minha corte, destro e competente como é, declarou-me que com ele não podia fazer mais do que um colete?”.
- “Ah”, respondeu então o alfaiate, - “é que, na sua terra, o senhor é um grande homem”.
Millôr Fernandes
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