O tempo também parece de muda para a tentativa do presidente de governar sem fazer acordos mais gordos com o Congresso. O arranjo de governo de Jair Bolsonaro ainda não tomou forma, se é que algum dia deixará de ser disforme.
Os principais enroscos políticos recentes, fora e dentro do governo, são significativos.
Primeiro. Ministros e assessores do Planalto, a “equipe política” e mais próxima de Bolsonaro, difundem entre jornalistas a ideia de que o poder e a influência de Guedes têm limites, como ficou claro na derrota da CPMF, mas não apenas.
Não é fritura, mas não é banho-maria. Contam por aí aquela velha conversa de que Guedes precisa ter mais “sensibilidade política”, além de resultados e feitos para apresentar também no curto prazo.
Segundo, o Congresso começou a apresentar contas mais pesadas para Bolsonaro, boletos político-financeiros que em parte caem no colo de Guedes. A última rodada da tramitação da reforma da Previdência não vai apenas custar caro em termos de liberação de verbas e de cargos.
Os parlamentares começam a apresentar o orçamento das suas expectativas de relação com o governo. A campanha da eleição municipal ainda deve complicar esse jogo.
Decerto o governo já sofrera dúzias de derrotas: derrubada de decretos, de vetos, medidas provisórias que caducam, projetos de lei largados na poeira.
Mas o Congresso não bulia até agora com artigos de extrema necessidade, como reformas econômicas fundamentais, a começar pela da Previdência (o talho no funcionalismo e a reforma tributária serão ossos duros de roer).
Previsível, os parlamentares acabam de dizer que não vão aprovar reformas duras e controversas de graça para o sucesso do governo Bolsonaro.
Terceiro: tal pressão do Congresso não provocou uma reviravolta, mas vazam de modo cada vez mais frequente notícias sobre uma reforma ministerial. De costume, mudanças em ministério não saem como o presidente e seus líderes planejavam. Quando se abre a porteira, passa boi, passa boiada e passa girafa também, pois muita gente vai querer pasto.
Quem vaza as notícias diz que o governo negociaria cargos por apoio partidário, mas sem ousar dizer o nome da barganha.
Quarto, um dos tripés do governo Bolsonaro, a história de combate à corrupção, está sendo corroído. Óbvio, um dos cupins é a reação em várias frentes às lambanças da Lava Jato, associada a Moro (derrotas no Supremo, no Congresso, críticas na opinião pública).
Além do mais, a irritação do Congresso com a política de Bolsonaro se junta ao desgosto corporativista e às críticas de fundo a respeito da atuação de Moro, na sua vida pregressa e no ministério, em especial no pacote anticrime. Embora popular, o ministro é uma figura acuada e desprestigiada nos três Poderes.
As reformas dão tropeções no Congresso; parte da elite econômica se impacienta com a falta de clareza de rumos.
O programa anticorrupção de Bolsonaro parece se afogar no acordão de que participa o próprio presidente, entre outros problemas. De firme, do tripé, resta a propaganda reacionária e autoritária.
Gente mais razoável do Planalto parece ter notado que o governo precisa de um rearranjo e que não se assentou. O que Bolsonaro fará disso é uma assombração.
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