sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Um Congresso muito indecente

Deve estar no DNA dos congressistas brasileiros. A maioria mete a mão grande no nosso bolso. As digitais estão ali. Não importa quem esteja no comando. Finda a era de José Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer e Eduardo Cunha nas duas Casas, agora temos dois novatos, que poderiam fazer história, moralizando a farra dos gastos num país alquebrado. Mas não.


A composição é em dó maior e em proveito de si próprio. Um finge recuar, diante da pressão da opinião pública. Mas aí o outro desafina. Dá uma inflada nas despesas e uma maneirada nas punições a perdulários ou réus. Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, o que os partidos estão pedindo na Câmara e no Senado para o fundo partidário e o fundo eleitoral é obsceno. O rubor sobe às faces. A família brasileira, tradicional ou não, é contra dar ainda mais grana e mais folga para políticos. 

Rodrigo Maia é um homem sensível. Chora quando fala do pai, do filho varão, quando é promovido ou aprova reformas. Acho bonitinho. Se fosse mulher, iam atribuir o choro à fragilidade feminina. Como é homem, todo mundo se comove. Davi Alcolumbre não chora e suas ações são medidas para agradar a família Bolsonaro. A maior subserviência de Alcolumbre é sua campanha pela indicação do Eduardo-Mãos-no-Coldre a embaixador em Washington. 

Maia tem 49 anos e é católico. Alcolumbre tem 42 anos e é judeu. Ambos são do DEM. E gordinhos. Nenhum tem curso superior. Maia, ex-bancário, é mais articulado. Sua história política é alentada, nasceu no Chile, no exílio de seu pai Cesar, consultor e mentor. Alcolumbre, ex-comerciante, vem do Amapá e do PDT. A presidência do Senado caiu em seu colo porque ninguém queria mais Renan Calheiros. E porque Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil de Bolsonaro, o apoiou. 

Maia e Alcolumbre não são velhas raposas. São novas raposas. Se discordam, minimizam. Como disse Maia, eles são “irmãos siameses”, não há possibilidade de “traição” entre os dois. Mas a sociedade não suporta mais essa casta de engravatados com regalias e gula. Sempre foi assim. Não precisava continuar a ser assim.

O Congresso Nacional gasta R$ 10,8 bilhões por ano. É o segundo mais caro do mundo. Perde apenas para os Estados Unidos. São quase R$ 30 milhões por dia pagos pelos cofres públicos (ou seja, nós). Trabalham mais de 25 mil pessoas no Congresso. Há senador com séquito de 78 servidores, trabalhando só para ele. Trabalham mesmo? Cada congressista brasileiro custa seis vezes mais que um parlamentar francês. Os dados são da União Interparlamentar, em pesquisa em parceria com as Nações Unidas.

Os penduricalhos são fatais. Auxílio, cota, extras inadmissíveis extensivos a toda a família, num país com 13 milhões de desempregados. Esse pessoal não vive no Brasil. Trafega de carro blindado ou helicóptero, sai de suas mansões com segurança computadorizada direto para o gabinete ou para o aeroporto. E não está nem aí. O Congresso nunca enxugou seu orçamento. Só aumentou. E em cima do sacrifício da nação. 

Vamos repetir em alto e bom som. É indecente o Congresso brasileiro ser o segundo mais caro do mundo. E votar por gastar mais, desafiando a sociedade sofrida. É indecente o Fundo Partidário ser usado para pagar multas por infrações e financiar advogados de congressistas. É indecente o Congresso propor aumentar o Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhão para R$ 3,7 bilhões para financiar campanhas. Muito fundo para uma sociedade sem fundo algum.

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