Mas qual o quê. No mesmo dia, o superintendente da Polícia Federal do Rio, Ricardo Saadi, um dos pomos da discórdia, foi exonerado.
Mais uma derrota na fila de dissabores de Moro, que, de recuo em recuo, ainda não conseguiu dizer a que veio.
Sucumbiu no projeto de flexibilização de posse e porte de armas, não conseguiu fazer andar sua proposta de combate à criminalidade no Congresso Nacional. Nem mesmo emplacar auxiliares de terceiro escalão, como bem diz o simbólico exemplo de Ilona Szabó, que ele queria e não foi autorizado a colocar na suplência do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
E ainda tem de ouvir pitos públicos do chefe, como as suspensões das credenciais hierárquicas do ministro sobre a PF e da carta branca conferida no início do governo que agora Bolsonaro nega.
Quando trocou a toga pelo cargo de ministro, Moro tinha obrigação de saber que perderia brilho. Deixaria de ser o todo-poderoso juiz da operação Lava-Jato para se tornar subserviente ao presidente, persona que ele não podia alegar desconhecer. Perdeu poder, autoridade e autonomia, algo que só uma indesculpável ingenuidade ou um carreirismo deslavado seriam capazes de explicar. Ou os dois.
Como Moro apanha sem reagir, pululam como pulgas teorias extravagantes de que ele estaria se guardando para quando a eleição presidencial chegar. De que continuaria cultivando sua popularidade e de forma alguma pediria demissão, reservando ao presidente o ônus de um eventual afastamento.
Difícil crer em uma estratégia tão tortuosa, que pressupõe cuspir sobre o prato em que comeu. Ou seja, se tornar opositor de Bolsonaro na última hora e concorrer contra ele em 2022. Ato visto como traição, na maioria das vezes imperdoável, pelo eleitor.
Por mais que a aprovação popular resista já há lacunas no super-herói, abalado pelos vazamentos de mensagens com procuradores e, mais grave ainda, por não conseguir fazer andar investigações que envolvem a família do presidente. Talvez porque Bolsonaro passe por cima dele e dê ordens diretas aos órgãos responsáveis pelas apurações, o que o levaria para desconfortável campo da cumplicidade nada republicana.
Isso se traduz em fragilidade, imagem oposta à de robustez e força que Moro passava ao público quando suas sentenças condenavam corruptos à prisão.
A ingenuidade, que aqui beira a tolice, pode até embalar sonhos de vir a disputar votos, mas o servilismo a um patrão que faz dele gato e sapato leva à outra ponta: o desejo continua sendo a cadeira no Supremo Tribunal Federal. O assento vitalício valeria a submissão.
Mas também aí o ex-juiz de Curitiba deve se precaver. Bolsonaro não é propriamente um homem de palavra. Vive desdizendo os ditos, não raro dizendo que nunca disse o que disse.
E seu apreço por patrimônios é próximo de zero, como se viu recentemente no trato com a Amazônia, patrimônio universal, ou em relação a Angra, patrimônio natural que ele quer transformar em uma nova Cancún.
Moro seria mais um patrimônio ardendo em chamas. No caso, por autocombustão.
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