O cônsul alemão Hertz adorava as artes plásticas modernas, os cavalos azuis de Franz Marc, as alongadas figuras de Wilhelm Lehmbruck. Era uma pessoa sensível e romântica, um judeu com séculos de herança cultural. Certa vez perguntei-lhe:
- E esse tal Hitler, cujo nome aparece de vez em quando nos jornais, esse chefete anti-semita e anticomunista, não acha que poderá chegar ao poder?
- Impossível - respondeu.
- Como impossível, com todos os absurdos que vemos nas história?
- É que o senhor não conhece a Alemanha - sentenciou - Lá é impossível que um agitador louco como aquele chegue a governar ao menos uma aldeia.
Pobre amigo, pobre cônsul Hertz! Aquele agitador louco por muito pouco não governou o mundo. E o ingênuo Hertz deve ter terminado em uma anônima e monstruosa câmara de gás, com toda sua cultura e seu nobre romantismo.
Pablo Neruda, "Batávia"
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