Moralmente, defendem, não há distinção entre o Estado que recolhe tributos e o sujeito que entra numa loja e leva mercadorias sem pagar. Ambos estão se apropriando de parte da riqueza produzida por um indivíduo sem que ele tenha escolha.
Ensinar esse conceito a crianças é exponencializar a polêmica. Mas há quem esteja mexendo no vespeiro.
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No Brasil, a produtora gaúcha Brasil Paralelo, especializada na difusão de ideias de direita, comprou os direitos e o traduziu no primeiro semestre deste ano. Foram impressos 2.000 exemplares, que se esgotaram rapidamente.
É uma versão adaptada de um dos clássicos do liberalismo, "A Lei", do francês Frédéric Bastiat (1801-50). Na história infantil, Fred, um simpático idoso, conversa com os irmãos Marcos e Sofia, seus vizinhos, que o procuram para fazer um trabalho escolar.
Ele começa então a ensinar às crianças o que são direitos de um indivíduo. "Ter direitos significa que existem coisas que eu posso fazer e ninguém pode me impedir", diz.
Teoricamente, afirma Fred, quem deve proteger os direitos das pessoas é o governo. Mas o que acontece quando homens maus estão no governo?, pergunta.
Para ilustrar a teoria, Fred leva os irmãos à sua horta. Se Maria, a vizinha, roubasse tomates, seria errado, diz ele. E se um policial viesse junto, continuaria sendo errado, prossegue. "Roubar é sempre errado", escreve o garoto Marcos em seu caderninho, assimilando a lição.
Ou seja, não importa se é um agente do governo que tenta tomar algo sem permissão. Isso não é justo.
"As pessoas más no governo pegam as minhas coisas e dão a outras pessoas sem a minha permissão", ensina o idoso.
"Mas quem faz isso são os piratas!", diz Marcos. "Sim, Marcos, piratas roubam coisas, isso é chamado de espoliação. E quando os agentes do governo o fazem, chamamos de espoliação legalizada", concorda Fred.
"Ele arremata sua conclusão dizendo que "quando as leis permitem que haja espoliação, as pessoas voltam-se umas contra as outras".
"Todos passam a querer receber, sem que haja algo em troca. Algumas pessoas deixam de trabalhar duro e esperam que o governo tome conta delas. Assim, as pessoas más no governo conseguem o controle de tudo", conclui.
Em outras palavras, o que ele está ensinando é que imposto é roubo, embora o slogan polêmico nunca seja mencionado no texto. O argumento é que o poder do Estado de tributar os cidadãos é uma forma de opressão e um modo pelo qual se exerce controle sobre o indivíduo.
Muito mais correto, prega Fred às crianças, seria as pessoas doarem voluntariamente parte de sua riqueza para quem precisa. Sem que isso seja uma obrigação, um tributo.
Lucas Ferrugem, um dos sócios da Brasil Paralelo, me disse que há uma demanda muito grande por parte de pais de direita, ou liberais, por livros infantis que não estejam impregnados por uma visão esquerdista.
Por isso, a produtora, que surgiu fazendo vídeos e documentários, está querendo entrar no mercado de livros impressos.
Não é a única iniciativa nessa área. Como mostrei aqui em junho, o Instituto Liberdade e Justiça, de Goiânia (GO), também está lançando livros infantis ensinando conceitos de liberalismo. Mas eles não se aventuraram na espinhosa questão de imposto ser o equivalente legalizado de roubo.
Para os liberais, uma sociedade sem impostos é uma utopia distante. Para chegar lá, é preciso começar a incutir esse pensamento desde cedo na sociedade. Espere mais livros nessa linha para breve.
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