quinta-feira, 18 de julho de 2019

'Inguinorãnças' e despautérios

O Brasil está se tornando um país psicologicamente inviável. Há incontáveis lugares bem piores no mundo, com certeza há muitos regimes mais opressivos e perigosos, mas os nossos níveis de absurdo desafiam qualquer campeão de resiliência. Não dá para acordar todos os dias com uma barbaridade nova batendo à porta, com um despautério recém-nascido berrando na rua.

A indignação precisa de espaço, precisa de ar. É preciso silêncio entre um grito e outro, até para que os gritos possam ser ouvidos. Grito em cima de grito gera uma cacofonia insuportável, à qual ninguém consegue prestar atenção, e onde nada mais se escuta.

Acabamos todos exaustos, sonhando com a Suíça e com ilhas desertas, onde nada acontece.

Jair Bolsonaro supera as expectativas.

Não é à toa que a oposição está tão perdida. Numa entrevista à “Folha de S.Paulo”, o deputado Alessandro Molon reconheceu o problema: “Temos um governo caótico. Muita gente diz que isso torna a vida da oposição mais fácil, nem precisaríamos fazer oposição porque o governo mesmo se faz oposição. (....) Um governo caótico apresenta dois desafios a mais para a oposição: primeiro, que a cada momento se fala de uma coisa diferente, e você não consegue ter método. Você está discutindo Previdência e tem que discutir filho embaixador. Você está tratando de propostas para gerar emprego e renda e o presidente propõe mudar o número de pinos da tomada”.

Eu me solidarizo com o seu sentimento, deputado. Muita gente também diz que um governo caótico facilita a vida dos colunistas, mas é desatino demais para espaço de menos.
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A indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington é a mais estapafúrdia de todas as ideias estapafúrdias jamais saídas da densa cabeça de Jair Bolsonaro. Ela é, antes e acima de tudo, absolutamente ofensiva.

Ofensiva para o Itamaraty, para quem escolheu Relações Internacionais como profissão, para quem sabe o que é Diplomacia e tem noção do que significa uma embaixada no exterior, especialmente uma dessa importância; e, de forma mais ampla, ofensiva para os norte-americanos, por quem traduz menosprezo, e ofensiva para nós, brasileiros, que acabamos levando mais um carimbo de república bananeira na testa.

O que me espanta no episódio não é o nepotismo; com isso já estamos acostumados, e de longa data. Curiosamente, filhos de presidentes e de autoridades brasileiras em geral costumam ser super, multitalentosos, verdadeiros “jênios”, aptos a qualquer tarefa.

Dessa vez, o que surpreende é a dimensão da ignorância, a profundidade da estupidez.

A gente imaginaria que 30 anos pelos corredores de Brasília ensinariam alguma coisa, mesmo a um deputado ocioso do Baixo Clero; pois taí no que dá superestimar Brasília e subestimar o Baixo Clero.
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O outro lado também não tem jeito.

Com tantas enormidades acontecendo, a esquerda prefere promover o auto-da-fé da deputada Tábata Amaral, que cometeu o crime de pensar fora da caixa ideológica.

Já vimos esse filme com Marina Silva — e estamos vivendo as suas consequências até hoje.
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Toda a minha solidariedade a Miriam Leitão e Sergio Abranches, calados pela intolerância de uns e pela covardia de outros.

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