Impressionado com a algaravia, o presidente da República dobrou os joelhos. Pôs-se a telefonar para parlamentares, entre eles o relator da Previdência, deputado Samuel Moreira. Nesta quarta-feira, ao chegar para uma solenidade do Exército, em São Paulo, deparou-se com um grupo de policiais militares. E protagonizou algo muito parecido com uma versão verbal de um cavalo de pau: "Vou resolver o caso de vocês, viu?" De repente, o que parecia um passe virou bola dividida. Bolsonaro e o seu PSL unem-se numa conspiração contra a reforma do próprio governo.
A naturalidade com que o presidente muda de convicção torna um suplício a rotina do ministro Paulo Guedes, condenado a administrar seus barulhos e seus silêncios. Quando os deputados desidrataram sua proposta, o Posto Ipiranga gritou: "Abortaram a nova Previdência". No instante em que o chefe tenta beliscar mais um pedaço, ouve-se na pasta da Economia um silêncio de velório.
Ao discursar na solenidade do Exército, Bolsonaro disse que Executivo e Legislativo devem adotar proposições que "fujam do populismo". "A reforma da Previdência atenderá a todos", declarou, antes de se dirigir aos policiais: "Fiquem tranquilos meus colegas das forças auxiliares. O sacrifício tem que ser dividido para todos, para que possamos colher os frutos lá na frente".
No mesmo discurso, Bolsonaro afirmou que "o Brasil melhor para todos" é algo que "tem que sair do discurso fácil de político". Maltratados pelo capitão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os líderes do centrão já não conseguem reprimir uma espécie de sorriso interior. Avaliam que o presidente discursa como quem brinca de roleta-russa movido pela certeza de que a coerência que manipula está completamente descarregada.
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