No poder, o presidente adotou a mentira como prática cotidiana. Na sexta-feira, ele bateu uma espécie de recorde pessoal. Em entrevista à imprensa estrangeira, mentiu sobre a fome, o desmatamento, a educação e o uso de agrotóxicos no país.
“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, disse. O último relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) mostrou que 5,2 milhões de brasileiros vivem em grave situação alimentar. Devem ser cidadãos invisíveis para o presidente.
Em resposta a um correspondente alemão, Bolsonaro disse que o Brasil está “nos últimos lugares no tocante ao uso de agrotóxicos”. A mesma FAO informa que o país é o mais consumidor de pesticidas no mundo. Nos primeiros seis meses do ano, foram liberadas 239 novas substâncias.
Questionado sobre a Amazônia, o presidente repetiu a cantilena de que “nós podemos ensinar qualquer país do mundo a proteger seu meio ambiente”. Mais tarde, alguém o lembrou de que o desmatamento da floresta cresceu 60% em junho. Irritado, ele contestou os dados oficiais e sugeriu que o diretor do Inpe estaria “a serviço de alguma ONG”.
Bolsonaro também disse que “a educação aqui no Brasil, nos últimos 30 anos, nunca esteve tão ruim”. A afirmação não bate com a vida real. Em 1991, o país tinha 20% de analfabetos. Hoje tem 6,8%, de acordo com o IBGE.
O presidente ainda usou informações falsas para atacar Míriam Leitão. Disse que a jornalista participou de ações armadas contra a ditadura, o que não ocorreu, e contestou as torturas que ela sofreu num quartel do Exército, relatadas à Justiça Militar.
Dois dias antes, Trump sacou outras mentiras para difamar a deputada Omar, nascida na Somália. Chegou a acusá-la de simpatia com uma organização terrorista, reforçando o preconceito contra muçulmanos.
Além do uso contumaz de mentiras, os insultos de Trump e Bolsonaro têm outra característica em comum. Seus alvos preferenciais são as mulheres.
Na sexta, Bolsonaro anunciou mais um desejo autoritário. Quer impor um “filtro cultural” ao financiamento do cinema brasileiro. “Nem na época da ditadura existiu isso”, afirma o produtor Luiz Carlos Barreto. Aos 91 anos, ele lembra que o regime militar só censurava os filmes depois que estavam prontos.
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