O governo mal começou e já teve dois ministros da Educação. Ambos professores, com mestrado e doutorado em ciências Olavetes. O primeiro, Ricardo Vélez, deixou duas marcas: o caos administrativo e o plano de impor às escolas a filmagem diária de crianças hasteando a bandeira e entoando o hino nacional, depois de recitar o slogan de campanha do capitão. O segundo, Abraham Weintraub, conservou a balbúrdia gerencial e transformou um corte orçamentário numa cruzada ideológica que uniu a esquerda e a direita universitária numa mesma trincheira.
Juntos, Vélez e Weintraub produziram a única realização social perceptível do governo Bolsonaro nos seus quatro meses e meio de existência: de tanto cutucar a paciência alheia, o MEC conseguiu despertar o asfalto. Nesta quarta-feira, alunos, professores e funcionários de universidades e escolas realizam um protesto que tem ambições nacionais. O movimento ocorre num instante em que Bolsonaro prioriza a distribuição de portes de armas e o Posto Ipiranga Paulo Guedes informa ao Congresso que a economia está "no fundo do poço".
Num gesto de raro oportunismo, centrão e oposição juntaram-se para arrastar o ministro Weintraub até o plenário da Câmara. Nesta quarta, enquanto as vítimas dos cortes de R$ 7,4 bilhões já anunciados pelo MEC estiverem protestando, o dono da tesoura passará pelo constrangimento de explicar aos deputados a falta de critérios e o excesso de ideologia.
Com sorte, o governo do capitão levará apenas um chacoalhão. Com azar, a administração Bolsonaro talvez assista ao nascimento de uma oposição extraparlamentar semelhante àquela que moeu Dilma Rousseff, triturou o petismo e criou a onda de insatisfação que transformou um deputado do baixíssimo clero num presidente da República capaz de cometer a burrice de terceirizar o Ministério da Educação a Olavo de Carvalho, um polemista que toca fogo no circo tuitando desde a Virgínia.
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