A população da Índia na atualidade, com 1,2 bilhão de habitantes, chegará a ultrapassar aquela da China - que limitou severamente a procriação com 1,5 bilhão de abortos nos últimos 15 anos -, hoje com seu 1,4 bilhão.
O Brasil, nesse contexto de colossos (no início do século XXI pareciam concorrentes insignificantes para o “gigante adormecido”), crescerá, sim, mas num ritmo bem mais lento, a ponto de que seu PIB será equivalente a míseros 13% daquele da China e 18% da Índia. Os dois países orientais estão realizando avanços impressionantes, assumindo o domínio da produção não só física, mas intelectual das novas tecnologias.
O Brasil avançará no ranking dos dez maiores, alcançando o sexto lugar (hoje no oitavo), porém será ultrapassado pela Indonésia, Turquia (!). Nas previsões do futuro imediato, apenas a Alemanha entre os “europeus” estará no grupo das dez maiores economias, exatamente na lanterna. Sumirão do “caput mundi”, segundo a Bloomberg, a França, a Inglaterra e a Itália.
Na base dessa mudança radical, além do crescimento populacional e do nivelamento de desigualdades, é preciso buscar as razões culturais que permitiram escolhas de ordem política em favor do desenvolvimento acelerado.
A Índia, uma mescla de 20 raças arianas e orientais, apesar de aparentemente parada no tempo, se beneficiou de uma cultura hinduísta e do seu derivado budista. Nestas, o destino do ser humano leva ao nirvana, quando o corpo e seus tormentos, como o envelhecimento, serão dispensados, e, liberto de reencarnar, continuará numa forma de espírito angelical, determinado por valores e possibilidades indescritíveis com palavras.
A ideia de uma ininterrupta evolução entre dois infinitos liga ao ser indestrutível (o espírito) um fardo chamado "karma" (méritos e deméritos). A complexidade faz dessa população uma atenta observadora da imaterialidade, do pensamento, da meditação, do intelecto, das vibrações da natureza.
Essas religiões propiciam abertura mental, reflexão, contraposição de ideias, aceitação e atenção para o impalpável: fatores essenciais na Índia, normalmente insignificantes e não ensinados no Ocidente. O indiano é naturalmente alerta à “imaterialidade”, às ondas do pensamento como criadoras e modeladoras.
Numa época pós-industrial, como a que vivemos, as maiores conquistas, inclusive econômicas e financeiras, passaram a se realizar nas tecnologias avançadas e nas comunicações virtuais. Disso o imenso acervo cultural e religioso, baseado nos Vedas, Upanixades e Bagavad Gita, deu valor a capacidades superiores, reflexiva, intuitiva, analítica. Cidades pobres como Bangalore em duas décadas saíram de uma entristecedora miséria para surgir como centros de tecnologia avançada da comunicação, da informática, da imagem e da informação.
A China, por sua vez, carrega, como destaca o sociólogo Domenico de Masi, a sábia tradição de Confúcio, que enraizou no país as regras de ordenamento exterior das atividades humanas e de uma vida regrada pelo contínuo equilíbrio “marcial” de forças e de ações conscientes. Em contraste com o pensamento materialista do Ocidente.
O comunismo chinês difere do congênere da Europa e mais ainda daquele da América Latina. Baseia-se atualmente no “Beijing consensus”, um contraposto ao “Washington consensus”, e se apresenta como uma composição de pragmatismo, intervenção do Estado na economia, prioridade do mercado sobre a democracia, enxerto capitalista no Estado socialista, abertura liberal aos investimentos internos e externos, flexibilidade absoluta do emprego, carga tributária mínima, baixa intervenção burocrática, assistencialismo enxuto, concentração das decisões num núcleo fechado e restrito de inteligência, ao qual se submetem Legislativo, Exército e Judiciário.
É um sistema que, visto do Ocidente, parece um sonho (ou pesadelo) ultraliberal, um Frankenstein de ideologias e de regras que, entretanto, recolheu um inconteste sucesso econômico, sem empreender guerras e confrontos, para erguer-se como a maior potência econômica e, em breve, financeira do planeta. Isso sem ter em comum a visão bolivariana do comunismo latino-americano, que tem como referência a castigada Cuba e os escombros da Venezuela.
Em 2030 a China alcançará um PIB de US$ 64 trilhões, mais que o dobro dos US$ 31 bilhões dos Estados Unidos. A Índia, em segundo lugar, terá US$ 46 bilhões, enquanto o Brasil, em sexto lugar, ficará com US$ 8,6 bilhões.
O Brasil não possui tradição, cultura que possibilitem fórmulas chinesas. A desgraça maior aqui é o patrimonialismo de direita e de esquerda, que se locupleta usando o mecanismo suprapartidário da corrupção, sem qualquer preocupação, a não ser eleitoral, com o crescimento da economia e a retirada da pobreza da população. Aliás, quanto maior, mais inculta e miserável ficar a população, mais se presta às manobras de quem pensa, assumindo um governo, apenas em pilhar o que sobrou das pilhagens anteriores.
Em comum, as economias emergentes do planeta levam a sério o superávit das contas públicas, os investimentos em infraestrutura e os multiplicadores de oportunidades.
Já no Brasil a cultura local prioriza o acessório, os privilégios e as “maracutaias”, sem preocupação com o futuro, a educação, a formação ética e profissional. A atenção é com o acessório; tão grande que esgota as receitas, maximizadas por uma carga tributária absurda, a ponto de tomar emprestados recursos para pagar a folha.
Se analisarmos o lulopetismo, veremos que, na sua fase de sucesso, registrou superávits primários, e disso atraiu investimentos enormes, mas, quando começou a “pedalar”, caiu e perdeu o rumo.
Os exemplos de fora e a lição de dentro não servem ao atual Congresso. As reformas devem visar à perenização dos superávits, estancar a irresponsabilidade (privilégios), que desperdiça as oportunidades de progresso de todos e que, como na China, tiraram centenas de milhões de pessoas da miserabilidade.
Os investimentos estruturantes não têm cota legal (!) até hoje. Paradoxalmente, aquilo que ajustou e fez avançar toda e qualquer economia de sucesso mundo afora, aqui, entre nós, nem é discutido.
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