Dê no que der as manifestações bolsonaristas marcadas para hoje, o Congresso não se deixará abater por elas. Muito menos o Supremo Tribunal Federal, alvos preferenciais dos que desejam governar com braço forte e a salvo das restrições próprias da democracia.
O presidente Jair Bolsonaro pode contar com muito apoio nas redes sociais que o ajudaram a se eleger, mas não foram elas que mais pesaram para o milagre registrado em outubro último. Pesou o efeito facada. E pesou, e muito, a rejeição ao PT e ao seu chefe preso.
As pesquisas de avaliação do governo feitas de janeiro passado para cá mostram que uma parte dos eleitores de Bolsonaro começa a debandar de suas fileiras. Cresce o número daqueles que o culpam pela desalentadora situação econômica do país que só faz se agravar.
Os donos do dinheiro querem as reformas, mas já concluíram que elas dependem pouco de um governo amador, estabanado, sem projeto para o país, e que aposta invariavelmente em conflitos. Elas dependem do Congresso onde o governo carece de maioria.
A parte mais poderosa e influente da mídia é hostil a um governo que lhe devota desprezo e que só deseja manietá-la. Não há sinais no horizonte de que Bolsonaro planeje se reinventar, convertendo-se em um presidente normal e capaz de compartilhar o poder.
Se ele pensa que o eventual fracasso do seu governo causará uma convulsão social que se reverterá ao seu favor, arrisca-se a se frustrar ou a colher um impeachment. Dilma não caiu por causa das pedaladas fiscais, mas porque perdeu as condições para governar.
No parlamentarismo, um governo fracassado é substituído por um governo novo. E segue a vida. No presidencialismo, troca-se de presidente em meio a uma crise de grandes proporções. Dois foram embora assim (Collor e Dilma). Quase foi embora outro (Temer).
Foi Bolsonaro que acendeu o pavio para animar seus seguidores a saírem às ruas em seu socorro. Procedeu como de costume – compartilhando um texto apócrifo nas redes sociais que dizia que o país é ingovernável com o Congresso e a Justiça que tem.
Não se deu conta de que por causa disso poderia ser alvo de um processo de impeachment. É crime de responsabilidade, segundo a Constituição, atentar contra o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados.
Alertado por assessores, recuou. Passou a dizer que não haveria lugar nas manifestações para os que defendem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal – é só o que se verá a partir de logo mais. Se antes cogitara de ir para as ruas, desistiu.
Amanhã será outro dia. E os desafios de um governo sem rumo e movido a crises continuarão do mesmo tamanho que têm hoje, se não maiores.
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