Lida no início da 56.ª Legislatura, a Mensagem de Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional é, em sua maior parte, um amontoado de frases desconexas, sem fundamento nos fatos, voltado a atacar opositores e a imaginar inimigos a conspirar contra o País e o governo.
O presidente afirmou que trazia “uma mensagem de esperança”. Mas o discurso genérico, fincado numa ideologia estridente, foi incapaz de dar fundamento a qualquer otimismo.
Não corresponde aos fatos dizer que a criminalidade vem batendo recordes. Em muitos Estados, conseguiu-se diminuir os índices de violência e os números de crimes praticados. Também é pouco preciso dizer que as leis penais são permissivas e que elas são causa dessa criminalidade recorde. Se o governo Bolsonaro pretende oferecer à população um novo patamar de segurança pública, urge abandonar diagnósticos genéricos e pouco realistas - mais afeitos à retórica do palanque eleitoral - e traçar um plano de governo, que, de forma serena e corajosa, apresente prioridades, meios e metas.
O governo tem um enorme desafio, por exemplo, nas relações internacionais. É preciso ampliar e fortalecer os acordos comerciais, abrir novos mercados aos produtos brasileiros e integrar o País nas cadeias globais de valor. No entanto, no discurso ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro limitou-se a dizer que, “nas relações internacionais, o Brasil deu as costas para o mundo livre e desenvolvido”, o que evidentemente não corresponde aos fatos, principalmente se considerados os últimos dois anos e meio. Ao falar assim, o presidente da República mostra que está desinformado sobre o Itamaraty e o seu trabalho.
Em vez de apresentar ao Congresso as prioridades que o novo governo enxerga pela frente, o presidente Jair Bolsonaro disse que “o Brasil resistiu a décadas de uma operação cultural e política destinada a destruir a essência mais singela e solidária de nosso povo, representada nos valores da civilização judaico-cristã”. Ora, o País não está numa cruzada e, muito menos, envolvido numa guerra civilizacional.
Um dos problemas sérios que o governo terá de enfrentar é o desemprego. Muito se fez no governo Temer para aumentar a ocupação, mas há ainda um longo caminho a percorrer. A esse respeito, o presidente disse: “Treze milhões de desempregados! Isso foi resultado direto do maior esquema de corrupção do planeta, criado para custear um projeto de poder local e continental”. É difícil vislumbrar um horizonte promissor diante dessa confusão de ideias.
Pelo que se vê, para o presidente Bolsonaro, não há muita diferença entre escrever no Twitter e apresentar ao Congresso a mensagem anual do Poder Executivo. Por sinal, a posse presidencial não mudou os hábitos de Jair Bolsonaro na rede social. No primeiro mês de governo, mais de um terço dos 200 tweets publicados pelo presidente é de ataques a adversários e à imprensa.
O tom de campanha eleitoral pode entreter, por algum tempo, parte de seus seguidores mais radicais, mas o exercício da Presidência da República vai além. A mensagem lida no início dos trabalhos legislativos não apresentou uma visão de país - apenas corroborou a imagem de um presidente que ainda não sabe a que veio.
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