domingo, 2 de dezembro de 2018

Mudanças climáticas são maior ameaça à saúde deste século

As mudanças climáticas são a maior ameaça à saúde do século 21, e milhões de pessoas já vêm sofrendo suas consequências mundo afora nas últimas duas décadas, alertaram cientistas e profissionais da área da saúde.

Num relatório publicado na revista científica The Lancet nesta quarta-feira (28/11), eles afirmam que os efeitos das mudanças climáticas – de ondas de calor e tempestades mais intensas a enchentes e incêndios – ameaçam sobrecarregar sistemas de saúde pelo mundo.


O estudo, intitulado The Lancet Countdown on Health and Climate Change (Contagem regressiva sobre saúde e mudanças climáticas), envolveu a ONU, agências intergovernamentais e 27 instituições acadêmicas, abrangendo disciplinas que vão de saúde a engenharia e ecologia.

"Um clima num processo acelerado de mudança tem implicações terríveis para todos os aspectos da vida humana, expondo populações vulneráveis a extremos climáticos, alterando padrões de doenças infecciosas e comprometendo a segurança alimentar, a água potável e o ar limpo", alerta o relatório.

Tempestades e enchentes, por exemplo, não causam apenas ferimentos diretos e mortes, mas também podem provocar o fechamento de hospitais e desencadear surtos de doenças e problemas mentais de longo prazo para aqueles que perdem suas casas.

Incêndios florestais, por sua vez, deixam pessoas feridas e desabrigadas, mas também pioram dramaticamente a qualidade do ar em amplas áreas. Os recentes incêndios na Califórnia, impulsionados pela estiagem, deixaram não apenas mais de 80 mortos, mas também poluíram o ar até o estado de Massachusetts, diz Gina McCarthy, da escola de saúde pública de Harvard.

Além disso, temperaturas mais elevadas ligadas às mudanças climáticas estão aumentado o potencial alcance de doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue. O clima mais quente também pode aumentar a resistência de micróbios a antibióticos.

Temperaturas mais altas também parecem estar afetando as colheitas mundo afora, diz o relatório. E o aumento dos níveis de CO2 na atmosfera reduz os nutrientes presentes em cereais, aumentando o risco de desnutrição mesmo para os que têm o suficiente para comer, afirma Kristie Ebie, professora de saúde global na Universidade de Washington.

Os efeitos do aquecimento global são mais graves para os mais velhos e os que vivem em cidades, as quais retêm calor e podem ser mais quentes que áreas ao redor, aponta o relatório.

A Europa e a região do Mediterrâneo Oriental, por exemplo, são mais vulneráveis do que a África e o Sudeste Asiático, pois concentram mais pessoas idosas em cidades densamente povoadas, afirmaram os especialistas.

Em comparação com o ano de 2000, 157 milhões de pessoas adicionais em situação vulnerável foram expostas a ondas de calor em 2017. O clima mais quente também levou à perda de 153 bilhões de horas de trabalho no ano passado, um salto de 60% em relação a 2000.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas possam causar 250 mil mortes adicionais por ano em consequência de diarreia, malária, desnutrição e estresse por calor.

"Tendências de impactos das mudanças climáticas revelam um risco elevado e inaceitável à saúde, agora e no futuro", afirmou Hilary Graham, professora da Universidade de York, no Reino Unido, e coautora do estudo publicado na The Lancet.

"A falta de progresso na redução de emissões e no estabelecimento de capacidade de adaptação ameaça tanto vidas humanas quanto a viabilidade dos sistemas de saúde nacionais dos quais elas dependem", conclui o relatório, que insta todos os setores a fazerem mais para combater as mudanças climáticas.

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