sexta-feira, 7 de setembro de 2018

As ilusões do novo mundo

A destruição do Museu Nacional aconteceu no auge da campanha política. Talvez sirva, ao menos, para que os candidatos despertem para a importância de uma política cultural e de preservação do patrimônio histórico. Talvez porque, às vezes, a crise é tão aguda e prolongada que o corpo não responde mesmo a estímulos cavalares como a perda parcial da memória do País.


Nas viagens semanais pelo País, convivo com inúmeras experiências locais de preservação da memória. Museus pequenos, às vezes improvisados, surgem em vários pontos do Brasil. A razão de sua existência é muitas vezes também econômica. São pequenas cidades com belezas naturais que querem, de certa forma, encontrar sua identidade e agregar valor às suas atrações turísticas.

Dias logo antes de o Museu Nacional desaparecer numa noite de domingo, tinha feito uma viagem entre Rio e Minas. O objetivo era percorrer nove cidades ligadas por um trem comprado em Três Rios, sem nenhuma ajuda do governo. O final da linha desse trem será Cataguases. E precisamente em Cataguases conversei com as autoridades sobre a possibilidade de um museu que pudesse abarcar a presença da cidade no movimento modernista. Poucos sabem que ali foi lançada a Revista Verde, que era defensora do modernismo nascente. E que a cidade tinha um poeta e escritor chamado Rosário Fusco, que merecia ser lembrado.

Na verdade, escritores e artistas são bons temas para pequenos museus. Na Copa do Mundo, fiquei impressionado como existem museus cultuando escritores na Rússia. Existe uma diferença de idade entre os dois países e também de importância de duas literaturas, sobretudo no século 19.

Em Volta Grande, colada a Cataguases, visitei a casa onde funcionava o estúdio de Humberto Mauro, o primeiro grande cineasta brasileiro. A casa estava fechada e meio abandonada, a piscina vazia vigiada por um imenso sapo ornamental. É evidente que com um pouco de esforço, até exibindo filmes de Humberto Mauro, aquilo poderia funcionar bem. Como funciona e é atraente o Museu Mazzaropi, em Taubaté.

Talvez esteja aí também uma diferença de peso. Museus dirigidos por fundações privadas têm mais chance no universo da decadente política brasileira.

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