quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O ano das fake news

Estava em um almoço de família. Minha prima Júnia comentou sobre minha novela, O outro lado do paraíso, exibida pela TV Globo. Estava no salão de cabeleireiro. Conversa vai, conversa vem, uma senhora avisou:

– Soube que a personagem da Grazi vai se envolver com o menino, filho da Clara.

Minha prima argumentou:

– Impossível. Como naquele horário poderiam apresentar uma trama dessas?

A mulher tinha certeza. A notícia corria, boca a boca. Eu sou o autor da novela. Uma mulher e um menino? Jamais. Se eu escrevesse esse absurdo para o horário, a emissora nunca exibiria, porque tem um código ético. Mais ainda: o Estatuto do Menor também não permitiria que a cena fosse gravada. Essa não é a primeira notícia absurda sobre minha novela. Um pastor evangélico já declarou que haveria uma história homoafetiva entre dois garotos de 8 anos. Imagino que esse pastor tem uma mente doentia. De onde ele tirou uma mentira desse tamanho? Novamente, a história correu como um rastilho de pólvora, entre toda a internet. Nem na sinopse essas tramas foram sequer insinuadas. Invenção pura. Recentemente um site publicou uma notícia errada, sem pé nem cabeça. Reclamei. Pediram desculpas, tinham tirado de uma revista. Por trás da reportagem havia uma longa cadeia de mentiras. Não era culpa do site. Apenas ecoava notícias falsas. Mais tarde surgiu a notícia de que eu teria mudado todo o rumo da novela. Sempre ressaltei que é inspirada em O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Basta ler o livro para descobrir que não mudei uma linha. Mas e daí? Pouca gente leu. Até meu irmão veio perguntar se eu tinha mudado em função da audiência?

De tempos em tempos, a vida de um ator ou atriz famosos é “devassada”. Falam de eventos nunca vividos. Eu mesmo já passei por isso. Certa vez publicou-se que eu fui à Ilha de Caras, devidamente acompanhado. Nunca pisei na Ilha de Caras. Era para pretensamente devassar minha vida íntima. Já perdi a conta das vezes em que fui a um coquetel e fiz um selfie, a pedido de alguém. A pessoa publica em seu Instagram. E algum site publica o selfie, inventando um caso de amor com gente que nem conheço bem. Rapazes, é óbvio. Imagino o que passam por causa de falsas notícias. Família perguntando, mãe chorando, e ninguém acreditando em suas negativas. Afinal, está lá a foto. Mas quem hoje, sendo mais ou menos conhecido, se recusa a um selfie? Qual a origem desses furacões? Dessas notícias falsas e desagradáveis sobre a novela? Sou um cara religioso, tenho fé em Nossa Senhora Aparecida, pertenço à Ordem Rosacruz Amorc. Escrevo para crianças e jovens, além da televisão. Mal saio de casa. Quem inventa minha vida? Estou na televisão há bastante tempo. Não era assim. Cheguei a ser diretor da Contigo, especializada no mundo da fama. Meu lema era jamais mentir. Nem insistir na intimidade dos atores. Ao contrário, acompanhar suas causas. Só depois me tornei autor, de pedra virei vidraça. Que pedras enfrento hoje! Sites publicam fake news, sem nunca enviarem perguntas para constatar se são verdadeiras. O ideal seria que as pessoas só confiassem em informações de revistas e jornais conhecidos, assim como em seus sites. Onde as notícias são averiguadas. Mas não é assim que acontece.

Sou paranoico? Tenho a convicção de que fake news são criadas propositalmente. Sem citar nomes, mas até por concorrentes da emissora. Não posso provar. Mas no exterior já existem agências de fake news. Elas foram fundamentais na campanha de Trump à Presidência dos Estados Unidos. E nós agora?

Temos uma campanha presidencial pela frente. Governadores, deputados. Agências de fake news disfarçadas, já há. Estou certo de que as fake news terão um papel avassalador na política dos próximos meses. Vidas íntimas serão devassadas ou inventadas. Candidatos enterrados vivos. A internet terá um papel fundamental divulgando mentiras. Já vivo recebendo alertas de todos os tipos, aterrorizantes, sobre quedas de energia, golpes em gestação. No momento em que os candidatos mostrarem quem são, será o caos. Minha experiência árdua com as fake news em novelas é sólida. E me aterroriza quando entra no terreno da política. Vamos ouvir mentiras de todos os lados, sobre todos os candidatos. O objetivo: desestabilizar. Repito, nada é inocente. Haverá ondas de notícias falsas. Neste ano as fake news desembarcarão mais que nunca na política nacional. Salve-se quem puder.

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