domingo, 7 de janeiro de 2018

De novo apenas o ano

Pensando friamente na “política”, se enxerga que ela deveria aspirar ao bem comum, ser uma procura incessante pela convivência harmônica numa sociedade, baseada no respeito recíproco, na paz, na igualdade de oportunidades e na distribuição das benesses produzidas de forma a erradicar o sofrimento.

O quadro pintado pelos acontecimentos atuais é outro. Um festival de egoísmo e de dissimulações, que tem como objetivo tirar vantagens pessoais, que ignora as consequências e os horrores provocados a esmo.

Como feras vorazes, encardidas de baixezas, os principais ocupantes da cena são movidos pela sede de poder e riquezas e, ainda, impassíveis à penosa situação da população. Vida de nababos, em círculos tanto fechados quanto alienados. “Bom pra mim, o resto se dane”, sem compaixão para com seus semelhantes.


Os mecanismos da economia nacional se ressentem como se ressentiria um motor a gasolina alimentado com uma mistura de água, lama e apenas um pouco de derivado de petróleo com razoável octanagem. Regular o motor numa viagem é um exercício improvável, assim como subir o aclive da montanha.

As alternativas de escolha concedidas ao eleitor, pelas regras aprovadas pelo atual Congresso Nacional, são mínimas e ditadas pelo interesse da manutenção do status quo, varrendo outras possibilidades mais “democráticas”.

Com a manutenção das regras anteriores, ainda agravadas pela introdução de um financiamento público que concede privilégio aos ocupantes do Congresso Nacional, o resultado será obviamente o continuísmo. Ficaremos patinando por mais quatro anos entre mensalões e quadrilhões.

O próximo Congresso, com raras exceções, garante o atraso, a estagnação do potencial nacional, eternamente em briga com os vícios da desoladora carência de consciência coletiva. Fica evidente que um qualquer surto de progresso depende apenas de causas externas estupidamente favoráveis. E poderemos contar apenas com isso. A expectativa é ver o Brasil sangrando, como antes, perdendo a oportunidade de capitalizar seus esforços.

O sistema político brasileiro perdeu musculatura, é uma ameba e, psicologicamente, um débil sem rumo.

Para deixar o pântano mais propício a cobras e jacarés, o Congresso Nacional reeditou as regras eleitorais que levaram ao poder as figuras atoladas na Lava Jato. Concedeu, ainda, R$ 2,5 milhões a cada parlamentar para financiar sua campanha à reeleição e mais R$ 10 milhões de emendas parlamentares, gerou-se assim um desnível abismal entre duas categorias. Para o calouro nada, para o parlamentar tudo. Teremos um resultado de cartas marcadas.

Entende-se que, salvo milagre, não haverá uma renovação consistente para oxigenar o Congresso e o sistema político. A próxima legislatura promete congelar as esperanças de ajustar o Brasil.

Também não se enxerga um avatar na cena, alguém para induzir uma tomada de consciência, estimular um pacto nacional ou a chegada de um círculo virtuoso. O risco é continuar o espetáculo entre direita e esquerda, que se locupletam igualmente no poder.

Estamos à frente da inevitabilidade do continuísmo.

E lembrando Jean-Jacques Rousseau, teórico do iluminismo, “o poder deveria ser exercido pela vontade geral, pelo alcance do melhor para cada um. Por isso, subordina-se a liberdade individual ao Estado sob a condição de que todos façam o mesmo, quer dizer, respeitem as regras”. Embora a vontade particular tenda para interesses particulares, segundo o filósofo francês, a vontade geral tensiona a coletividade a escolher a fórmula mais desejável. Disso a necessidade do império da democracia.

Considera que os indivíduos se subordinam aos ditados do Estado, pagam os impostos, respeitam as leis em troca do bem maior e difuso. Só que no Brasil assiste-se à traição permanente por parte dos eleitos, interessados essencialmente na riqueza desregrada e no poder, atribuindo-se despudoradamente o desfrute do bem comum. Enquanto isso, a vontade geral é traída.

A democracia no Brasil ainda é uma miragem num ambiente desertificado pelo egoísmo e pela ignorância, que se associaram para erguer ao poder uma categoria maléfica, de “expertos”, que se apoderaram do esforço coletivo e contributivo e ainda usurparam as riquezas públicas em prejuízo da coletividade.

Perdidos? Não, é questão de escolhas possíveis e de tempo.

Entre a violência e a paciência, o sábio adota a última e sabe devotar a fidelidade aos princípios corretos confiando que, além de eternos, são os únicos que vencem as grandes guerras.

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