O Brasil, que gozava de crescente prestígio pelos esforços na preservação da biodiversidade e na redução do desmatamento na Amazônia, agora desperta indignação nos espaços multilaterais pela acelerada desconstrução de sua política socioambiental.
Para compreender essa reviravolta da imagem brasileira no cenário global, basta observar as instituições políticas e econômicas do país, as quais são – e sempre foram – extrativistas, exclusivas e excludentes, tendo como primordial finalidade a manutenção de privilégios restritos a poucos à custa de muitos. Tais entidades funcionam como uma caixa de ressonância dos interesses econômicos preponderantes e, no Brasil dos tempos atuais, o que prevalece é o agronegócio.
O poder econômico dos novos barões do café traduz-se diretamente em influência política. Em 2014, o Congresso Nacional foi eleito com a maior bancada ruralista da história. Nas palavras de Nilson Leitão, presidente desse grupo que representa os interesses de grandes proprietários rurais, "não há nenhum partido com o tamanho da Frente Parlamentar Agropecuária". Trocando em miúdos: eles mandam no Congresso. As instituições extrativistas – políticas e econômicas – sustentam-se mutuamente e tendem a persistir.
Para a nova elite agrária, as mazelas de um sistema político caracterizado pela fragmentação, pela falta de disciplina e pela infidelidade partidária são solo fértil para a consolidação do poder. No Brasil, nenhum governo consegue o apoio parlamentar majoritário sem oferecer benefícios em forma de cargos, obras públicas ou leis para aliados. O recente aliciamento de voto rural por parte de Temer a fim de se livrar de denúncias de corrupção é um notório exemplo, dado que metade dos votos que salvaram seu mandato saiu da bancada ruralista. A moeda de troca desse bazar cleptocrático foi a política ambiental brasileira, com consequências desastrosas para o meio ambiente.
Com a preservação da Floresta Amazônica, gigantesco "sumidouro" de carbono, o Brasil tem papel decisivo no combate ao aquecimento global e à perda de biodiversidade. Estudos apontam que, para conter uma crescente seca e desertificação de grande parte do continente sul-americano, é preciso que o desmatamento amazônico seja zerado imediatamente.
Na contramão da evidência científica, Temer sancionou o Plano Nacional de Regularização Fundiária que legaliza amplas áreas públicas invadidas na Amazônia e retirou exigências ambientais para a regularização fundiária. Como se não bastasse, o presidente sucateou órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama, e cortou em 43% o orçamento do Ministério do Meio Ambiente. Ele ainda paralisou centenas de processos de demarcação de terras indígenas, importantíssimas na luta pela conservação de florestas. Levou ao Congresso um projeto de lei visando à redução de 349 mil hectares da Floresta Nacional do Jamanxim, no sudoeste do Pará.
Em uma exímia demonstração de cleptocracia, o governo e a bancada ruralista transformam a maior floresta tropical do mundo em propriedade privada de alguns. Diante do rentismo institucionalizado e da fome mundial por commodities, a influência dos ruralistas só deve acabar quando o Brasil efetivamente se tornar um deserto.
Ciente da atual situação política brasileira, a comunidade internacional não mais enxerga o país como potencial aliado na luta global pelo aquecimento climático. A Noruega e a Alemanha reduziram as verbas destinadas ao Fundo Amazônia. Nas discussões da COP23, o Brasil carecerá de confiabilidade para cobrar ações climáticas dos demais estados.
A expectativa de que o Brasil volte a honrar compromissos ambientais jaz na sociedade civil. A tentativa fracassada de Temer de liberar a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) para a exploração de minérios mostra a força simbólica que a Amazônia tem para mobilizar a indignação brasileira. Ademais, chegamos ao fundo do poço. A eleição de 2018 é uma fugaz oportunidade de renovação.
Tim Wegenast
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