quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Mais do que política, crise de Estado

Parece ficção, mas não é. É a realidade concreta, difícil de compreender e impossível de ligar todas as pontas. A confusão só aumenta. O fato mais nítido, no entanto, é que o processo destrutivo da autoestima nacional é devastador: não há heróis que possam ser insuspeitos; sistema político e até órgãos de controle são abraçados por séculos de tradição patrimonialista e clientelista. É incrível que tudo venha a estourar nesta quadra de tempo em que vivemos; somos testemunhas de uma história de decomposição.

Mais que política, a crise parece de Estado: para onde se olhar, haverá buracos. A grande reforma do País será, um dia, tapá-los. Hoje, não há liderança para isso. Desta vez, nem o supremo STF escapou de menção; e o até então insuspeito Ministério Público entrou na roda. As vestais ficam assim acuadas, pois de seu ventre saiu a serpente; mais duro golpe contra a Lava Jato. É evidente que as novas gravações da JBS abalam o moral das investigações – ainda que não as liquidem.


Políticos de quase todas as colorações já tentam jogar pela janela a água suja do banho com a criança. Nada apagará provas, diálogos e depoimentos, mas os que buscavam desculpas terão argumentos para tergiversar: Rodrigo Janot que agora se explique! O processo de afastamento do presidente Michel Temer, por exemplo, já pouco provável diante da força do convencimento fisiológico, fica ainda menos tangível. O governo que, ofegante, via os preços de apoios dispararem, respirará aliviado.

Ainda assim, o impacto é menor do que gostariam os envolvidos. Na sociedade, não há áudios que eliminem impressões ou que desfaçam a certeza de que o sistema ruiu. Nem há vergonha que baste: no mesmo dia em que o imbróglio do MPF-JBS é divulgado, a Polícia Federal expõe fotos de um bunker, onde, supostamente, mais um ex-auxiliar do presidente da República escondia malas de dinheiro; tantas a não poder carregar. A mente do povo cria nexos, confusão alguma deletará imagens como aquelas nem o sentido de tudo. Isto ficará.

Carlos Melo 

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