quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Atual crise nos dá a sensação de que não há saída visível para o país

Depois de citar alguns versos de um dos poemas mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade, terminei meu último artigo com esta pergunta: “Que seria do mundo sem sonhadores e poetas?”

No mesmo dia da publicação, recebi e-mail do velho colega e amigo Luiz Carlos Abritta (que honra tê-lo como leitor!), notável trovador e poeta, além de advogado, dizendo-me que meu modesto texto o remeteu ao grande romancista argentino Ernesto Sábato, que um dia desabafou assim: “Que seria da humanidade sofredora se não fossem os santos, heróis e poetas, que nos trazem pedaços do absoluto?”

Mas ainda me valho, por incrível que lhe pareça, leitor, nestes dias de espantosas revelações e de forte indignação, desta legítima pérola do poeta Fernando Pessoa: “Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. São, pois, os sonhos que ainda me mantêm vivo.

Deixemos de lado, porém, pelo menos por enquanto, os poetas e intelectuais. Fixemos-nos num ou noutro aspecto da gravíssima crise que tomou conta do país há muitos anos, mas que hoje nos dá a sensação amarga de que não há mesmo nenhuma saída visível à frente.

O resultado dessa breve concentração/reflexão nos fará concluir que nossas instituições, embora demonstrem resistência, nunca passaram por instante tão delicado. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e, agora, a Procuradoria Geral da República, aos olhos atentos de boa parte do enganado, sofrido e exausto povo brasileiro, têm sido importantíssimos no agravamento da atual crise. Seus atores, em vez de cuidarem das instituições que representam, têm preferido a ribalta.

A reviravolta, na delação premiada dos executivos da J&F, provocou estupefação não só na comunidade jurídica, aqui e no mundo, mas, profundamente, na sociedade brasileira como um todo. Não se trata de levar em conta ou não o que possa ter sido feito de positivo, na operação Lava Jato, pela Polícia Federal e/ou pelo Ministério Público. Salta aos olhos que o trabalho feito por eles, incluindo-se a adoção da colaboração premiada para solucionar casos intricados, merece aplauso.

A questão é esta: pode um agente público (trata-se, no caso em tela, do procurador da República Marcelo Miller), durante a apuração de graves crimes de corrupção, na qual vinha atuando ao lado de seu chefe maior, aceitar oferta de emprego de advogado daquele que está sendo investigado pela instituição à qual está intimamente ligado?

Em meu parco entendimento, não pode, nem do ponto de vista legal (não se caracterizaria aí o crime de corrupção passiva?), nem, muito menos, do ponto de vista ético. E esse convite não despertou no procurador geral Rodrigo Janot nenhuma suspeita? Janot achou isso normal? Ou, na realidade, nunca soube dessas tratativas de seu colega? E o pior de tudo é que Marcelo Miller, meses depois, foi demitido do escritório ao qual aceitou filiar-se ainda como procurador da República – uma demissão, aliás, com a qual, até agora, ninguém se preocupou...

É claro que o que fizeram até aqui (ou deixaram de fazer) Miller, Janot e os empresários Joesley Batista e Ricardo Saud (estes, tidos como bandidos) levantou desconfianças em cabeças até mesmo laureadas.

E o papo de Janot com o advogado dos delatores?

O melhor é esperar pelo livro prometido por Palocci. Pelo capítulo revelado em seu depoimento ao juiz Sergio Moro, Lula se lascou.

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