sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Raposas reformam galinheiro

Charge do dia 11/08/2017
Em países civilizados e democráticos, os eleitores apoiam candidatos, partidos e programas de governo, com doações para as campanhas eleitorais. A campanha de Obama recebeu milhões de doações individuais de menos de cem dólares. No Brasil ninguém doa a partidos ou candidatos do próprio bolso porque ninguém confia no que farão com o seu dinheiro, ou no que farão quando chegarem ao poder.

Legislando em causa própria, deputados e senadores fingem que vão fazer uma reforma política, mas querem mesmo é facilitar as suas vidas e fazer suas campanhas eleitorais de graça — às custas de R$ 3,5 bilhões do contribuinte. Mas o achaque que eles chamam cinicamente de “fundo para a democracia” é atrelado à Receita Liquida da União, e se ela crescer, eles podem receber mais de dez bilhões para suas futuras campanhas. Fora o horário de rádio e televisão e os fundos partidários.

Abrir um partido virou um negócio tão bom como abrir uma igreja ou um sindicato (já são mais de 11 mil aqui, na Alemanha são 220). Não é preciso nem ser eleito, “candidato” já vai ser um excelente emprego no Brasil. Nenhum país do mundo oferece tanto dinheiro público aos políticos, o financiamento eleitoral na França e na Itália, além de limites rígidos de gastos, é muito menor do que o que os nossos deputados-candidatos estão prestes a aprovar, em nosso nome.

Mas nada garante que não surgirão novas formas de burlar as leis e fiscalizações, como foi a revolucionária invenção petista da “propina por dentro”, pagamento de suborno como se fosse doação oficial, que ao mesmo tempo lavava o dinheiro sujo. Como se viu nas últimas eleições, foram mais de 280 mil infrações nas doações de pessoas físicas, e não há noticias de consequências para fraudadores e beneficiários.

Com o “distritão”, uma boa parte, a pior parte, da Câmara, apesar de execrada pela opinião pública, vai se reeleger e manter o foro privilegiado, comprando votos e aliados, fazendo o diabo, como dizia Dilma. Não sei se é para rir ou para chorar, mas são esses aí que vão fazer a reforma política? Ou são só raposas reformando o galinheiro?

Nelson Motta

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