E aqui o assunto não é tratado como algo referente à esquerda, porque os partidos desse campo ideológico há muito deixaram o PT de lado. O PPS percebeu os furos na canoa ainda no governo Lula; o PSOL surgiu da dissidência; Marina Silva abandonou o barco e foi cuidar da vida, criando a Rede; o PSB deu o fora ainda sob a batuta de Eduardo Campos; as demais legendas tradicionalmente abrigadas no guarda-chuva do PT não influenciam no movimento das marés.
Weberson Santiago |
Essa ideia surgiu no início do ano, quando os dirigentes já aguardavam uma decisão de Sergio Moro pela condenação de Lula. O tal do plano B subtrairia impacto e adesões ao planejado lançamento da candidatura à Presidência, marcado para quando fosse divulgada a sentença. Assim foi dito, assim foi feito. Mas termina por aí o alcance do planejamento petista. O lance de esconder o réu atrás do candidato põe Lula em evidência, mobiliza uma militância hoje sem causa, recheia discursos, mas não cria aquilo que dá substância a uma candidatura: expectativa real de poder.
Há mais embaraços que desembaraços no caminho de uma hipotética volta ao Planalto. Afora toda a complicação jurídica, que não é pouca, há obstáculos que vão bem além da enorme rejeição ao partido e seu “candidato”. Se houvesse campanha de verdade, haveria estratégia onde, na realidade, só existem movimentos improvisados e atabalhoados. A fragilidade política da empreitada se expõe logo na origem: candidato de verdade nunca assume essa condição com tanta antecedência. O próprio Lula sempre que concorreu fez o jogo do vai não vai até ter uma estrutura minimamente segura de financiamento, propostas, propaganda, organização partidária e rede de apoios. Uma base de lançamento agora inexistente.
Reunir convertidos em atos públicos organizados por centrais sindicais, em que, além do “fora Temer”, do fora reformas e da convocação de eleições diretas já, se levanta a bandeira de que a eleição de 2018 não valerá sem a presença de Lula, não constrói uma candidatura nem significa uma demonstração de força. Ao contrário, evidencia a falta de consistentes armas de combate e apelo ao alvoroço, o último recurso dos fracos.
Imaginar que o eleitorado cairá de novo na lenga-lenga do herói injustiçado é não perceber que as coisas não são como o PT quer, mas como a maioria espera que elas sejam num país que não funciona girando em falso em torno do eixo de um homem só.
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