Temer conta, para permanecer no cargo, com apoio incondicional do PSDB, partido que financiou algumas das organizações que promoveram marchas contra Dilma e que havia perdido as eleições em 2014. O candidato derrotado, na época, era o senador Aécio Neves, que presidia o PSDB quando foi denunciado em maio deste ano por corrupção passiva pela PGR e afastado do cargo. Apesar de também ter aparecido em cadeia nacional pedindo dinheiro para o dono da JBS, Joesley Batista, Aécio foi reconduzido ao Senado pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento de que “mandato parlamentar é coisa séria e não se mexe, impunemente, em suas prerrogativas”.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressurge no cenário como a grande voz da oposição “a tudo isso que está aí”, fingindo não ter nenhuma responsabilidade pela institucionalização da corrupção que ocorreu durante o seu governo. É preciso lembrar que Michel Temer, assim como Dilma Rousseff, é invenção de Lula. Com aprovação recorde de 87% dos eleitores ao final de seu mandato, em 2010, Lula jactava-se de que elegeria até um poste se quisesse – e escolheu para sucedê-lo Dilma Rousseff, que até então não havia disputado cargo algum em toda a sua vida, arrastando o medíocre deputado federal Michel Temer, do PMDB, como seu vice.
Ironicamente, Temer acabou se tornando o algoz do PT e de todos os pequenos avanços patrocinados pelo governo Lula – o desastroso mandato e meio de Dilma não acrescentou nada às conquistas ocorridas entre 2002 e 2010. Com ameaças e troca de favores, Temer ganhou a conivência de um Congresso que tem a maioria de seus parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção (190 deputados e 48 senadores são alvo de inquérito ou ação penal no STF, segundo a revista Congresso em Foco), viabilizando reformas autoritárias – na educação, na legislação trabalhista, no sistema previdenciário – que colocam de novo o Brasil entre os países mais socialmente injustos do mundo.
Segundo o relatório “O Estado de Insegurança Alimentar no Mundo 2015”, da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o Brasil reduziu em 82% o número de pessoas subalimentadas entre 2002 e 2014, ano em que deixou o Mapa da Fome. Os principais motivos deste êxito foram o programa de transferência de renda – por meio da Bolsa Família -, o aumento da renda mínima (crescimento real de 71,5% do salário mínimo) e a geração de 21 milhões de novos empregos.
No entanto, segundo o economista Francisco Menezes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas e da ActionAid Brasil, em entrevista ao Nexo Jornal, há risco de o país voltar em breve ao Mapa da Fome. Um relatório que 20 entidades da sociedade civil elaboraram sobre o desempenho do Brasil no cumprimento dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, mostra que o risco se deve a uma combinação de fatores registrados a partir de 2015, como alta do desemprego, avanço da pobreza, corte de beneficiários da Bolsa Família e o congelamento dos gastos públicos por até 20 anos.
E, infelizmente, essa realidade já pode ser mensurada. Estudo da Fundação Abrinq aponta que dentre a população de zero a 14 anos, 40% se encontram em situação de pobreza – ou seja, 17,3 milhões de jovens brasileiros vivem em famílias com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa. Os números baseiam-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) relativa a 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com 14 milhões de desempregados, crescimento pífio do Produto Interno Bruto(PIB) e aumento da inflação previsto após a alta dos combustíveis, o país voltou a ser refém de sua atávica vocação para a tragédia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário