“E eu quis roubar; roubei, não instigado pela necessidade, mas somente pela penúria, fastio de justiça e pelo excesso de maldade. Tanto é assim que furtei o que tinha em abundância e em muito melhores condições. Não pretendia desfrutar do furto mas do roubo em si e do pecado”.Roubar, roubar, apropriação indevida, vampirismo desesperado, gula, avidez, penúria. Estamos vivendo em nosso país, principalmente hoje em dia, a denúncia dos conchavos, dos conluios de gangues compostos por políticos, funcionários públicos, empresários, enfim, homens que ocupam o Poder. Os perversos, eles todos, se caracterizam por serem imunes de “culpabilidade”.
(Fragmento de “História de um furto” em “Confissões de Santo Agostinho”.
A corrupção atinge o bem público; solapa as verbas destinadas para fins sociais, consequentemente é um ato que termina em “morte de pessoas” através da falta de verba para a saúde e alimentação. Ou seja, é um ato homicida do mesmo modo que um assaltante rouba e depois mata. Mata o bebê que não recebe o alimento; mata a criança que fica sem educação; mata o atendimento à saúde e empobrece a população que a cada dia fica mais endividada.
O que assistimos são atos populistas, demagógicos, eleitoreiros, de “expiação da culpa”. Expiar é dar flores aos feridos e agredidos para não ficar perseguidos. Pede-se desculpa através da expiação, mas não muda o comportamento corruptor. “...quando se indaga a razão por que se praticou um crime, esta ordinariamente não é digna de crédito, se não se descobre que a causa pode ter sido ou o desejo de alcançar alguns dos bens... ou o medo de os perder”, escreve ainda Santo Agostinho em suas Confissões.
O homem que rouba ou revela a sua imensa avidez ou a sua destrutiva inveja, é um faminto em busca de plenitude, de ter tudo, consequencia imediata do seu desespero de morrer de desamor de si próprio e dos demais ----esse é o complexo da metáfora do Drácula! Ou esses senhores, protagonizadores do assalto ao país e a toda população, foram bebês privados de alimento e afeto, ou são ainda crianças vorazes e invejosas que só compreendem a abundância como forma de vida.
Na realidade sabemos que são vidas vazias, desprovidas de sentido humanitário e capacidade de compaixão e consideração pelo seu semelhante.
Termino hoje com versos de Álvaro Alves de Faria em seu livro “Trajetória Poética”, pag.566:
“Quem dirá não aos que fazem as bulas de horror/ quem dirá não aos assassinos da esperança/quem dirá não aos donos das leis/ quem dirá não aos donos da terra/ quem dirá não aos que cavoucam para esconder/ quem dirá não aos que tiram e não colocam/ quem dirá não aos que não jogam água na planta/ quem dirá não aos que cercam as ruas/ quem dirá não aos que ferem e vestem armaduras?”
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