O abismo entre reforma e mudança
O país do futuro, preconizado por Stefan Zweig, nos idos de 1940, não tem futuro, no momento. Será preciso se libertar de vez do ranço criminoso do privilégio para estabelecer seus rumos numa tentativa de chegar ao século XXI. É obra para abismar todo o mundo numa superação ainda não vista. Deixar de lado a sujeira de décadas, a podridão de conceitos ancestrais, limpar-se de ideologias mantidas a naftalina, será a o primeiro passo. E infelizmente não se vê com brevidade o desejo de mudar. E cada dia enlameado e desanimado pelas sucessivas revelações que tornaram o país um brejo, fica tudo mais difícil. Será preciso a refundação do país, proeza bem maior do que a recauchutagem para parecer novo.
No momento se dividem as opiniões a favor e contra reformas, lembrando um velho dito que se divide para melhor dominar. Discute-se a reforma da Previdência jogada na mesa pelo Poder, não a reforma que deve ser feita para todos com divisão equânime dos chamados sacrifícios. Uns, a maioria, serão sacrificados como cordeiros para que outros, minoria privilegiada e ligada ao Poder, continuem a pagar menos por muito. E por que não se reforma para o futuro com o passado de trambolho.
Por maior que seja a doutrinação, inclusive da mídia, algumas vezes incensando o desastre de amanhã, está em debate o futuro do país com um saco de gatos, por sinal, bem selvagens. Ou não seria a reforma da Previdência mais um abismo clamoroso entre o público e o privado? E algumas “novidades” da reforma trabalhista se chocando com o Código do Processo Civil que podem abarrotar a Justiça proximamente?
Por trás das mudanças tão alvissareiras como se propaga, está o mercado financeiro que nunca foi bonzinho, tanto que sequer se voltou a comentar sobre a reforma financeira. Já não é mais necessária? Bem mais do que as discussões atuais, e com maior impacto quase imediato sobre as contas públicas, a reforma financeira seria uma alavanca econômica que, essa sim, acionaria o aumento de empregos. Mas o governo não vai mexer no vespeiro do mercado financeiro, com todas as rimas, apesar de anúncios sutis de que fará proximamente. Mas o perto está ainda muito longe como a coragem da covardia.
Luiz Gadelha
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