A hipocrisia, por exemplo. Muitos dos que bradaram “contra a corrupção” estão aí, investigados a partir das delações da Odebrecht – que é apenas uma entre tantas empreiteiras e outras corporações que compraram mandatos. Cassadores agora estão na condição de caça. Vários desses moralistas de ocasião, já à época, eram alvo de inquéritos no STF.
A exacerbada polarização dos contra e a favor do impeachment favoreceu o recorrente maniqueísmo entre ‘bem’ e ‘mal’ absolutos, agora abalado para quem examina a conjuntura sem passionalismo. Os dois lados da disputa foram atingidos pelos relatos de suas relações “não republicanas” (para dizer o mínimo) com a Odebrecht, descritas em quase 24 horas de gravações acompanhadas de farta documentação. 70% das denúncias estão concentradas em cinco partidos: PT, PMDB, PSDB, PP, DEM e PSD. Fundamentalistas incorrigíveis dizem que o apontado no adversário é verdade, mas no seu correligionário é calúnia...
Um tsunami atingiu toda a estrutura de poder, evidenciando a promiscuidade corrosiva entre negócios privados e ações públicas, de licitações para grandes obras pelos Executivos a emendas parlamentares. Dos escombros da Ré Pública precisa nascer um novo país.
É urgente banir o fisiologismo, a apropriação privada da instância pública, as indicações partidárias para feudos políticos, como superintendências estaduais de órgãos de controle, as somas milionárias para campanhas, o capitalismo de compadrio, de laços, que vigora no Brasil.
Os investigados deviam se afastar de suas funções de mando, nos ministérios, na presidência das casas legislativas, nas relatorias de projetos. É o que aconteceria em qualquer República digna desse nome.
Analistas políticos acostumados a conviver com a (des)ordem estabelecida, ao reconhecer o apodrecimento do modelo e dos seus sustentáculos, dizem que não há alternativas. Desconhecem o movimento vivo da sociedade, que é sementeira de uma nova consciência, de lideranças, de uma energia cidadã que produz, desde já, ricas experiências em educação, moradia, produção de alimentos, controle social do setor público. Só os partidos com vocação de universalizar projetos específicos, e antenados com essas forças novidadeiras, sobreviverão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário