A frase, cuja autoria é atribuída a Luís XIV, é o retrato mais simbólico do absolutismo. Sempre lembrada para nivelar o comportamento de muitos governantes brasileiros com tal perfil, ela agora dá suporte ao superpoder administrado pela Odebrecht e por seus mandachuvas. Conversas reveladas como diálogos mantidos entre delatores e políticos para ajustar as tramoias investigadas pela operação Lava Jato são a demonstração do que há de mais asqueroso na atitude de algumas centenas de políticos brasileiros, vendilhões do interesse público, ladrões empenhados apenas no próprio enriquecimento, para os quais a cadeia é dos destinos mais brandos.
Muitos que ouviram as declarações do patriarca da Odebrecht, Emílio, de seu filho Marcelo e de vários de seus executivos sabiam que esse grupo, havia décadas, financiava campanhas eleitorais, comprava decisões e a homologação de licitações sempre apresentadas formalmente como legais, para construção de obras públicas. Nunca se duvidou de que as grandes empreiteiras brasileiras azeitassem as campanhas eleitorais de candidatos à Presidência, de governadores dos Estados, prefeitos e membros do Parlamento. Mas é repugnante saber que tais ajudas fossem a senha, o chocolate, o único critério para escolha de quem fosse realizar, da maneira e ao custo que entendesse, a construção de estradas, viadutos, estádios de futebol, usinas nucleares, portos, aeroportos, o nunca investigado programa Luz para Todos (o de Minas, o mais caro do Brasil).
Péssimo, é verdade, sabermos que a nação pagou bilhões para nutrir contas privadas de políticos, comprou apartamentos, sítios, fazendas, por um montante de recursos, apenas o até agora conhecido, que poderia ter custeado o atendimento de demandas históricas da sociedade.
De forma direta ou debochada, não faltou quem dissesse, entre citados e delatores, que a corrupção é, entre nós, um costume velho de casa; que nada se faz no Brasil sem tais práticas e que elas não são apenas das empreiteiras. Bancos, a representação de setores industriais inteiros, fornecedores de serviços, federações e sindicatos dão limites à vida do brasileiro, apenas cobrando a compensação das contribuições que generosamente alguma vez destinaram ao bolo das campanhas.
Medidas provisórias vendidas a quilo, projetos pagos a linha dão a dimensão de por que os juros não baixam, os impostos são tão escorchantes para alguns setores da atividade econômica e suaves para outros. De senadores aos chefes das milícias, do tráfico de drogas dos morros às prostitutas, em todos os segmentos da vida nacional há uma conta, um troquinho, uma ensaboada, por que não dizer, uma sacanagem.
Como profetizado por Cassiano Gabus Mendes, o Reino de Avilã é aqui mesmo. Saiu a rainha Valentine, e entrou o mendigo Pichot. E Ravengar, aos montes, na articulação.
Que zona! Estamos liquidados.
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