À espera da extrema-unção nessa agonia pós-populista, o país político está à deriva como carro de escola de samba. As máscaras já caíram, as fantasias já caíram, as alegorias já caíram, faltam cair a hipocrisia e a desfaçatez. E aí ficaremos os foliões com cara de palhaço.
O baralho já foi trocado, mas o futuro segue desenhado pelas idéias do passado. O atraso foi rebatizado de “reformas” propostas por líderes do retrovisor e agora rejeitadas pelos que se escondem no biombo “de não poder votar contra as bases”. A imaginação política é igual a zero.
E, assim, perdido entre mesóclises, o governo fica no vai-e-vem. Já está clara a fratura na base; o apoio voltou ao toma-lá-dá-cá. E as divergências não são de valores ideológicos; a traição é sentimento comum. O montante revelado nas delações revela que no parte-reparte das propinas muita grana ficou em caixas perdidas pelo caminho: assaltar o banco é fácil, difícil é rapartir a bufunfa. Quais bancos acolheram essas fortunas? Quantos produtores de programas de propaganda “gratuita” de rádio e televisão se meteram nessa esparrela? Quanto dinheiro comprou “opiniões” e apoios?
Acuado pelas delações, o governo, que tinha a negociação como arte, é refém de chantagens prisionais. Reformista como Jango, indeciso como Jânio, esclerótico como Delfim Moreira, enfrenta uma crise econômica como a de Washington Luís.
As delações e o racha no núcleo duro da quadrilha estão a ameaçar a política velha. Tomar o poder é simples; difícil é mantê-lo. E nenhum protagonista da velha política quer dar lugar aos oportunistas que virão. Na mesa do jogo político, à véspera da lista do fim do mundo, o baralho poderá ter sido trocado, as cartas podem estar muito bem embaralhadas, mas os jogadores não querem se afastar da mesa em nome da arte da políticagem.
Voltamos à velha ordem da proteção dos milicianos do poder, do salve-se quem puder na luta do poder pelo poder. Só falta pedirem o retrato do velho de volta, antes que algum aventureiro desfralde a nova bandeira da salvação nacional.
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