terça-feira, 7 de março de 2017

Palavras faladas voam, escritas permanecem

No dia 7 de dezembro de 2015, parece que foi ontem, tal a velocidade da época que se vive no Brasil, o então vice-presidente Michel Temer escreveu uma famosa carta à então presidente Dilma Rousseff.

Destacou 11 pontos, provavelmente inspirado por Bertrand Russel, que recomendou aludir a fatos diante de interlocutores ou temas complicados, que suscitam dúvidas em excesso. Outro antigo provérbio lembra que “contra fatos não há argumentos”.


A frase, porém, que o então vice escolheu para epígrafe de sua Carta foi o provérbio que é título deste artigo, cuja versão original em latim é “verba volant, scripta manent”, que ele deu com a tradução entre parênteses, provavelmente por saber a quem se dirigia.

Estas frases famosas são conhecidas por diversas designações: máximas, provérbios, sentenças e também brocardos. Brocardo porque um bispo alemão chamado Georg Burckard, que viveu no século XI, organizou uma série destas frases em vários volumes. Elas já existiam em grande quantidade nos fins do primeiro milênio.

“Ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore” é outro brocardo muito conhecido e muito citado.

Michel Temer, o agora presidente, recorreu ao ‘verba volant, scripta manent”, que, ele homem de saber jurídico, deve ter retirado de algum compêndio de Direito, ambiente em que tais ditos célebres são muito citados.

Mas por que ele terá recorrido ao Latim? Só o Presidente poderá esclarecer o verdadeiro motivo, mas este escritor e professor aventa a hipótese de que poderá ter sido para indicar, entre tantas diferenças, que ele, um constitucionalista, prezava e preza o Direito. E que ele só assumiria a presidência se o afastamento da então presidente, já muito mais do que um rumor, obedecesse aos atos litúrgicos constitucionais desta passagem, sempre dolorosa e sempre sujeita a controversas interpretações.

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