Nada provável. Soa a absurdo. O entendimento que prevalece no governo é o de que a Polícia Federal e o Ministério Público, embalados pelo sucesso da Operação Lava Jato, limitaram-se a aplicar na Carne Fraca os mesmos métodos de investigação que até aqui haviam dado certo. Não só de investigação, mas também de comunicação posterior com o público.
A Carne Fraca foi deflagrada no dia em que a Lava Jato completava três anos de êxitos. A Polícia Federal tratou a operação como a maior de sua história. Exagerou. Valeu-se de mais de mil agentes para fazer sete prisões e recolher material nas empresas alvos da ação. Escalou um delegado inexperiente para explica-la depois aos jornalistas.
O erro mais sério teria sido o de não socorrer-se de especialistas em saúde sanitária para evitar disparates do tipo “papelão misturado à carne” ou de ácido impróprio usado para conservar ou conferir melhor aparência às peças de carne para venda. De resto, as conclusões tiradas o foram a partir de apenas dois laudos periciais. Pouca coisa por enquanto.
Blairo Maggi, Ministro da Agricultura, foi escolhido para defender a indústria de carne e bater de frente na Polícia Federal, tarefas que desempenhou a contento até ontem quando exorbitou. Ao comentar a decisão do governo do Chile de suspender as importações de carne brasileira, ameaçou retaliar os produtos daquele país consumidos por aqui.
Pior: Blairo disse contar para isso com o apoio do presidente da República. Bazófia, certamente. Primeiro porque tal disposição não combina com o estilo ameno e negociador de Temer. Segundo porque não foi só o Chile que impôs restrições à importação de carne brasileira, mas também a China e países da Comunidade Econômica Europeia.
A propósito: pelo menos até ontem à noite, os países que compram carne ao Brasil pesaram pouco a mão ao reagirem às descobertas da Polícia Federal. Não porque sejam bonzinhos ou descuidados. Devem estar avaliando as providências tomadas pelo governo brasileiro para enfrentar o problema e mais revelações que a Polícia Federal possa oferecer.
A prudência de Temer manda que ele e seus ministros evitem um confronto aberto com a Polícia Federal e o Ministério Público. Os dois são bem avaliados pelos brasileiros e guardam segredos que poderão atingir ainda mais políticos próximos de Temer. Um já foi atingido por um disparo de advertência: Osmar Serraglio (PMDB-PR), Ministro da Justiça.
Doravante Serraglio terá como um dos órgãos subordinados ao seu ministério uma Polícia Federal com munição suficiente para causar-lhe sérios danos. Ligado à bancada ruralista no Congresso, Serraglio foi pego chamando um dos presos da Carne Fraca de “grande chefe” e interferindo a favor de um frigorífico do Paraná sujeito a fiscalização.
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