Nessas circunstâncias não pode, principalmente, cair na armadilha de registrar em selfies o deslize praticado. Se o fizer, perde minha admiração, leva muito pau, será meme e renderá gifs e mais gifs da torcida onde sou filiado e ele até parecia simpatizante.
Mais grave, perderá quilos de seguidores nas redes sociais. Seguidores e likes, claro, resultam em fama e renda. Dindim.
Perder admiração é ruim, mas é também da vida. Adultos são – ou deveriam ser - responsáveis por suas atitudes. Inclusive pelas inocentes. Ou as que envolvem o direito de ir e vir. Ou de, sendo do lado A, frequentar socialmente o lado B. E ali até se divertir, se o caso for de uma festa, por exemplo, onde convidados não precisam apresentar carteirinha do time, camisa ou bandeira. Todos ali sabem quem é quem. E o que professa.
Os que não foram indignos, se não eram perdoados, acabaram respeitados no seu sagrado direito de ir, vir, pensar e agir conforme bem entender – sem matar, nem roubar ou falsear. Até contrariando seguidores, fãs.
Indignidades, é bom lembrar, não tem lado, nem ideologia, dispensa carteirinhas. É triste e livremente praticada, sem distinção de campo de atuação, desde o início dos tempos. No recente processo de impeachment assistimos on-line ou ao vivo incontáveis indignidades.
Pois no pacote de indignidades incluo os pedidos de desculpas e as justificativas proferidas nesses dias por quem, sendo do lado B, participou de uma festa do lado A, ou manifestou “admiração” por um desamado do lado contrário dos fãs.
Essas desculpas e justificativas abrigam o ridículo e levam ao obrigatório pensamento/sentimento: cagão! E por cagão, vacilão, conseguiram perder o respeito de todos. Feio, aviltante, indigno. Se foi e fez, sem crime, por que se desculpar ou justificar? Adulto, não sabe agir como tal?
Sobre atitudes e vacilos, alguém escreveu que em momentos graves é preciso escolher o lado certo da História. O lado certo da História é delimitação pessoal e intrasferível.
À parte os indignos, que flutuam ao sabor de poderes e vantagens, o lado certo da História é relativo para quem respeita a democracia e a liberdade de opinião. Pode ser o B pra mim, o A pra você, o C pra ele. Certo pra mim, errado pra eles outros. E vice-versa.
Perdendo ou ganhando, eu sigo, defendo e pratico o caminho das minhas crenças – meu lado certo da História. Posso não admirar os meus opostos, não vou compactuar com eles e seus métodos, mas preciso reconhecer o democrático direito de pensar e agir diferente, segundo o que defende, pensa, acredita. Meu adversário. Não necessariamente meu inimigo.
O contrário disso é a intolerância – essa maldita que, no óbvio, fomenta ódios, violência e guerras. O histórico desse passo a passo abriga a patrulha – a que vivemos em 80, que se repete agora. Sempre e historicamente praticada por movimentos totalitários à direita e à esquerda. E não só a ideológica, mas as de comportamento, que castigam intensamente fumantes, gays, periguetes, santas e putas.
Repetindo o futebol, estamos pretendendo jogo de uma torcida só. O que, além de ser uma ode a chatice, é profissão de fé na intolerância.
A pressão é democraticamente legítima. A intolerância não. Não resistir à patrulha, não tendo cometido crime previsto em códigos de lei ou de ética, é fraqueza principalmente de caráter.
Desculpa aí, mas foi mau - fez mal para o deputado e para o filósofo. Faz mal para a História.
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