Por que o procurador-geral, Rodrigo Janot, escolheu somente braços femininos para transportar a preciosa, e para muitos maldita, caixa de Pandora com 320 pedidos de investigação por crimes de corrupção? Entre eles figuram, de acordo com os primeiros vazamentos, além de senadores, deputados e governadores, nada menos do que o presidente do Senado, o presidente da Câmara dos deputados e os dois últimos presidentes da República, Dilma Rousseff e Lula da Silva.
Vendo as imagens daquelas mulheres levando solenes, em silêncio, as caixas pelos corredores do Supremo, uma apresentadora da Globo News perguntou: “Por que só mulheres?” “Por que não escolheram braços masculinos para carregar aquele peso?” Não obteve resposta.
Não era difícil fazer aquela pergunta, assim com não é o fato de usar aquelas imagens como metáfora, que levam a outras perguntas: Será que Janot confiou mais na lealdade e na prudência feminina para transportar aquele material precioso e incendiário, capaz de tirar o sono da nata da classe política?
A mulher, sabemos, continua discriminada, também no campo da política, apesar de todos os movimentos feministas do mundo. Na Câmara, que tem mais de 500 deputados, apenas 40 são mulheres. E no Senado se contam nos dedos das mãos. Entre os governadores creio que há apenas uma mulher. E quando o presidente Temer formou seu primeiro Governo não havia nenhuma ministra.
Elas são igualmente corruptas que os homens? Algumas sim, a maioria não. E isso por que são mais puras do que eles? Não. Talvez porque a mulher veja a política como feminina e tenha repugnância a virilizá-la com a corrupção de bens que deveriam servir para aliviar a dor dos mais frágeis. E em relação ao social (não me crucifiquem) a mulher é mais sensível do que o homem.
Elas são capazes, melhor do que o homem, de ver o poder como serviço e não como privilégio. Têm mais pudor em roubar do que os homens. É só ir às prisões e ver a imensa desproporção entre presos e presas. E isso acontece em todo o mundo, embora elas sejam maioria do planeta.
Discute-se como regenerar a política. Certamente seria mais próxima da vida se nela convivessem mais mulheres, que melhor conhecem, por exemplo, o que é ser chefe de família entre os pobres. São elas que conhecem, melhor do que nós, a dor do mundo.
Também existem as mulheres sedentas de poder, ladras, cúmplices, incompetentes? Claro que sim. Algumas também estão na lista maldita. Nunca, no entanto, tantas, proporcionalmente, e com tão pouco pudor quanto os homens.
Talvez a delicada tarefa de confiar a lista de Janot a mãos femininas tenha sido uma homenagem por causa da discriminação que a mulher continua e continuará sofrendo por muito tempo na política.
Além disso, porque, quando chegam as eleições, terrível paradoxo, as mulheres preferem continuar votando “neles”.
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