Motivos não faltam. O ano legislativo começou com a eleição em 1º turno tanto do presidente do Senado (e do Congresso Nacional) quanto do presidente da Câmara (e vice-presidente da República). Eunício de Oliveira (PMDB/CE) e Rodrigo Maia (DEM/RJ) foram citados em delações da Lava-Jato até com codinomes: “Índio” e “Botafogo”. Dizem “não perder um segundo de sono com isso” (Eunício) e “ter preocupação zero” (Rodrigo). Eduardo Cunha – antecessor de Maia, que o apoiava – usava essas mesmas expressões.
Muitos votos dos parlamentares em seus pares, para constituir as Mesas Diretores, derivaram de acordos para nomeação de comissionados e indicação de relatorias de projetos – o que dá visibilidade. A autoproteção para eventuais investigados e réus não faltou: vários vencedores, ao falar em “defesa do Parlamento”, referiam-se aos mandatos sob suspeição. Por trás da aparente calmaria dos grandes vencedores, o consumo de ansiolíticos se amplia...
Só um aspecto do reiterado discurso desafinou: o da propalada “independência do Legislativo”. Aí estão os presidentes da Câmara e do Senado jurando compromisso com a pauta do Executivo, essa mesma que jamais foi apresentada à população quando da constituição originária dos Poderes, nas eleições nacionais de 2014. Nada de novo: Dilma também não implementou o que tinha proclamado na vitoriosa campanha.
Lá se foi o primeiro mês de 2017, com seus sinais nada promissores. Além da morte surpreendente e trágica do então relator da Lava-Jato, a tosca e chocante “torcida” de alguns pelo falecimento – também inesperado – da esposa do ex-presidente Lula, o que divergência política alguma justifica. E as febres amarela e da violência ceifando muitas outras vidas.
Talvez como corolário desses tempos dissonantes, a rádio MPB FM do Rio de Janeiro, que só tocava música brasileira, encerrou suas atividades em fevereiro. Até música boa no dial anda rara... Menos mal que Vinícius e Carlinhos Lyra nos socorrem: “E no entanto é preciso cantar/ mais que nunca é preciso cantar/ e alegrar a cidade”.
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