O sistema de saúde é um dos que mais movimenta dinheiro no mundo.
O Brasil gasta 9% do PIB com saúde. França, Suécia, Inglaterra e Canadá gastam percentuais semelhantes, mas seus sistemas são mais eficazes; os americanos consomem 17%, mas estão classificados em último lugar entre os onze países mais desenvolvidos.
Por que tanta diferença?
São muitas as razões; por exemplo, a universalização do atendimento é limitada por mercantilismo, corrupção e distorção de evidências científicas.
Mas como distorcer evidências?
Estima-se que anualmente são publicados mais de 1,5 milhão de pesquisas médicas, com um crescimento de 20% na última década, diluindo a qualidade da informação. Lidar com tantos dados que priorizam a equação custo-benefício é um desafio para os médicos, gestores, imprensa leiga e pacientes.
Segundo o especialista em MBE Dr. Luis Claudio Correia (Escola Bahiana de Medicina) no memorável artigo “Medicina Pseudocientífica”, “[...] o método científico é um conjunto de procedimentos que minimizam as ilusões [...] quanto menos rígido for [...] mais susceptível o estudo fica às ilusões do mundo real”.
As pesquisas que recomendam se determinada prática deve ou não ser difundida devem estudar grande número de enfermos. Com número pequeno, é grande a chance de ocorrer algum viés na seleção dos enfermos.
Quando grupos de pacientes semelhantes são escolhidos de forma randomizada (estatisticamente aleatória) para receber um ou outro tratamento, temos maior possibilidade de verificar a eficiência dos tratamentos testados.
Uma série de casos cuidados de uma forma específica não permite generalizar conclusões, pois só cria hipóteses a serem comprovadas.
A evidência científica é essencial para o ato médico ético, mas os grandes estudos prospectivos randomizados levam tempo para serem concluídos e debatidos. Precisam de financiamento, o que não é simples ou isento de conflitos. Mesmo seguindo normas preestabelecidas, podem gerar conclusões equivocados ao serem repetidos por outros pesquisadores. A medicina é a ciência das verdades passageiras!
Mas o que fazer diante de uma doença veloz, ou quando o paciente não pode esperar?
A recomendação de um médico experiente, que considera os detalhes do seu paciente, mesmo contrariando o senso comum vigente, não deve ser desconsiderada.
A medicina não é uma linha de produção. Hospitais não podem funcionar como montadoras de veículos, e algumas publicações científicas deveriam rever suas atuais metas.
A medicina será sempre pauta, mas a economia não pode pautar a medicina o tempo todo.
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