quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A economia salva

Nos últimos meses de 2016 havia um clima de baixo astral na economia, com muitos analistas vaticinando a invasão da agenda da recessão – inflação alta, aumento do desemprego e PIB em queda livre – no ano de 2017.

Aqui e ali se ouvia vozes, inclusive do mundo empresarial, queixando-se da equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meireles, cujo prazo de validade estaria se esgotando.

Poucos meses depois, o ambiente é outro. Não que a economia real já tenha sido impactada fortemente pelos novos ares. O desemprego continua sendo o tormento de milhões de brasileiros e ainda há muito chão pela frente até o Brasil voltar a ter índices de crescimento robustos.


Mas é visível a mudança de humor no mundo dos negócios. A inflação vem sendo puxada para o centro da meta, abrindo espaço para uma queda contínua da taxa básica de juros. Os investimentos diretos no país foram, em janeiro, os maiores desde 1995, o real aprecia-se em relação ao dólar e a safra agrícola de 2017 deve bater novo recorde, com um aumento de 17% em relação ao ano passado.

A indústria paulista voltou a contratar em janeiro, depois de longo e tenebroso inverno de demissões. O termômetro da indústria de embalagem também sinaliza positivamente, enquanto o risco do calote da dívida caiu pela metade, após ter ido para estratosfera nos anos da ex-presidente Dilma Rousseff.

Como em economia não existe mágica, debite-se a reversão das expectativas à persistência da equipe econômica em manter o rumo traçado há nove meses, sem truques e sem turbinar artificialmente a economia.

Ainda que cambaleie na condenável política do compadrio, em que por vezes os amigos então acima de tudo, o arco de alianças montado pelo presidente Michel Temer no Congresso Nacional deu a ele uma base sólida para aprovar as reformas necessárias, o que gera um fator decisivo para a atração de investimentos: previsibilidade.

Talvez o ponto de inflexão tenha sido a aprovação da PEC do Teto.

Na economia, não há hoje o imponderável de Almeida. A própria figura de Temer contribui para o clima de estabilidade. Nisso, diferencia-se radicalmente de Dilma.

Ao contrário de sua antecessora, montou uma equipe harmoniosa e altamente competente na Fazenda, no Banco Central, no BNDES, na Petrobras, no IBGE e no Ministério do Exterior. Não há uma divisão entre “ortodoxos” e “desenvolvimentistas” tão ao gosto do governo passado.

Esse é o ponto forte de seu governo. A política econômica não está subordinada à busca frenética de popularidade.

Ficaram para trás, portanto, os tempos em que o rumo da economia dependia do humor da presidente, sujeito às suas interferências erráticas e à sua propulsão de meter o bedelho em tudo.

O tempo da política é outro. Ele pode incidir sobre a própria economia, a depender da extensão e profundidade das delações da Odebrecht. Mas, por enquanto, bons ventos sopram na direção de Temer, bafejado pela melhoria do cenário econômico mundial, com o fim da recessão que se iniciou em 2008 e a recuperação do preço das commodities.

Mas a política também pode ser influenciada pelo sucesso da economia. É muito cedo para se decretar que o fim do governo Temer será igual ao do governo Sarney, quando todos queriam distância dele.

A recente pesquisa da CNT/MDA pode alimentar análises precipitadas. Mesmo fugindo da armadilha de adotar medidas populistas para turbinar os índices de aprovação do seu governo, certamente eles estarão em outro patamar se a recuperação da economia continuar nesta marcha e lograr êxito a aprovação das reformas previdenciária, trabalhista e tributária. Ou ainda, se progredir a ideia de destravar os investimentos por meio de amplo programa de privatização e concessão.

O mundo dá voltas. Ao término de seu mandato, Temer pode ter cumprido sua missão de entregar ao seu sucessor um país minimamente reorganizado, em condições de alcançar o crescimento sustentado.

Convenhamos, não será pouco para quem pegou um trem desgovernado e à beira do abismo.

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