sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O mundo dá mais um passo rumo ao apocalipse

Todos os anos, um painel de cientistas e especialistas nos diz quanto resta para o fim do mundo. Fazem isso de um jeito simbólico, com um relógio prestes a chegar ao abismo, à meia-noite: o indicador são os minutos que faltam para esse momento. E hoje estamos muito perto, tão somente dois minutos e meio para o apocalipse, segundo esse grupo que inclui 15 prêmios Nobel. Os responsáveis pelo grupo o adiantaram 30 segundos na direção da zero hora. Nunca tínhamos estado tão perto da destruição da humanidade desde 1953, quando os EUA e a URSS puseram sobre a Terra suas primeiras bombas termonucleares, com uma capacidade de destruição desconhecida até então.

Naquele momento, a humanidade esteve a dois minutos de seu fim. A bomba termonuclear de nossa época não é produto da Guerra Fria, mas de um fenômeno muito mais quente: a verborragia de Donald Trump e o aquecimento global. “As palavras importam. Não tanto como os fatos, mas importam muito”, afirmou uma porta-voz do painel antes de anunciar a nova situação. As palavras que preocupam se referem às sugestões de Trump de que o Japão deveria ter armamento atômico para enfrentar a ameaça da Coreia do Norte (texto do painel).

O mundo estava fazia dois anos parado a três minutos da hora fatídica, a mesma hora que em 1984 — a segunda pior crise da história deste relógio —, quando as duas superpotências rompiam relações e se alcançava um novo pico no arsenal atômico enquanto se avizinhava outra escalada rearmamentista. Curiosamente, em 1987 era Donald Trump que promovia o desarmamento dos EUA e da URSS. Hoje, ele é o problema que o planeta enfrenta. Em dezembro, como presidente eleito, Trump dizia que seu país deveria fortalecer sua capacidade nuclear até que o mundo recuperasse a razão em relação a essas armas.



"Putin e Trump podem optar por se comportarem como homens de Estado ou como meninos petulantes”, disse o painel ao mencionar os problemas que ressurgiram entre as duas grandes potências nucleares, com uma escalada dialética e em lugares como a Ucrânia e a Síria. “Esta situação mundial já ameaçadora foi palco do aumento de um nacionalismo estridente em todo o mundo em 2016, até mesmo em uma campanha presidencial dos Estados Unidos, durante a qual o vencedor, Donald Trump, fez comentários inquietantes sobre o uso e a proliferação de armas nucleares, e expressou sua incredulidade quanto ao consenso científico sobre as mudanças climáticas.”

O Relógio do Fim do Mundo (Doomsday Clock, como é denominado em inglês) foi criado em 1947 pelo conselho do Boletim de Cientistas Atômicos, um grupo de especialistas que pretendia conscientizar sobre o risco do armamento nuclear. Em sua primeira edição foi posicionado a 7 minutos da meia-noite. Em 1995, estávamos a 14 minutos. Em 2007 as mudanças climáticas entraram pela primeira vez entre suas preocupações para o futuro da humanidade. Neste caso, o aquecimento foi outro fator decisivo para o painel: o ano passado foi o mais quente dos registros históricos, e foi o terceiro ano consecutivo em que isso aconteceu. O grupo de cientistas reconhece o peso da situação política nos EUA e das pessoas que estarão no comando do Governo e, neste campo, o fato de a nova Administração dos EUA ser “abertamente hostil” a tomar medidas contra as mudanças climáticas.

Além disso, outra das preocupações expressadas no Boletim foi a das ameaças tecnológicas emergentes, em relação com os ciberataques, mas também com todos os problemas que a inteligência dos EUA reconheceu que surgiram durante a campanha eleitoral, com a ação de hackers e desinformação. E ressaltam especialmente a falta de respeito dos líderes mundiais pelos fatos, os dados e o conhecimento científico.

Convém lembrar que há 70 anos esse relógio nem sequer existia. A humanidade não havia dado motivos a si mesma para prever sua autodestruição.

Javier Salas

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