É justo?
Quem vai a um grande parque temático no estrangeiro enfrenta filas, separadas em labirintos gradeados, onde ficam pais e filhos durante longas horas e sem reclamar “muito” da espera. Na fila todos são iguais, alegres, coloridos, e a música ajuda a comer o tempo. Pessoas com necessidades especiais são bem recebidas e têm prioridade.
Pode-se divertir quantas vezes quiser na mesma atração e não se paga mais por isso. Quem consegue driblar o “tô cansado, quero dormir um pouco mais” consegue ir a muitas atrações no mesmo dia. Criaram-se passes rápidos, otimizando o tempo, e, com isso, outros parques podem ser visitados. É mais divertimento, consumo e lucro.
Imaginemos essa estratégia no sistema de saúde.
Como seria a fila de consulta para a clínica geral, ginecologia, pediatria e ortopedia? E a da mamografia, endoscopia, tomografia ou ressonância magnética? E a fila das pessoas aguardando cirurgia, radioterapia ou quimioterapia?
Tudo visível, sem tons de cinza. Faltaria música, mas OK!
Mas o sistema de saúde brasileiro, com sua casa dos espelhos, sempre distorce nossa imagem. Há anos inventou o Sistema Nacional de Regulação - SISREG, para “gerenciamento através de módulos que permitem a solicitação de consultas, [...] exames e procedimentos de média e alta complexidade, bem como a regulação dos leitos hospitalares, maior otimização na utilização dos recursos e humanização no atendimento”.
Há também uma outra invenção: a Central Estadual de Regulação, para “organizar a lista de espera por procedimentos no SUS”; com “gestão estadual”, permite a “regulação de procedimentos ambulatoriais de alta complexidade, iniciando sua atuação nos serviços de radioterapia, hematologia, cirurgia bariátrica, gestação de alto risco e terapia renal substitutiva”, sendo “responsável pela regulação de toda a rede de Hospitais Federais e Institutos do Rio de Janeiro, além das redes estadual e municipal”. Haja regulação!
Mas a cereja do bolo é que “as listas de espera [...] têm a finalidade de controlar [...] dar mais transparência ao acesso da população aos serviços especializados de saúde.
Não somos patetas.
Se há uma coisa que gestores não gostam é a filmagem de pacientes em filas que invadem calçadas. Agora as longas filas saíram das ruas e estão escondidas em computadores protegidos por senhas.
As pessoas passaram a morrer em “bancos” (de dados) e não em calçadas frias, longe de atentos fotógrafos e cinegrafistas.
Hoje a fila hospitalar é virtual.
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