Infelizmente, porém, nem sempre acontece assim. Há leitores que me cobram mais clareza. Ou, com energia, um mínimo de coerência. Nunca tenho o que reclamar deles. Sinceramente. A culpa é somente minha. Fui eu quem não soube transmitir, corretamente, o que desejava. Afinal, ninguém me obrigou a tornar público o que penso sobre a política do meu país em tempos bicudos. Sou o único culpado daquilo que me incomoda mais do que ao verdadeiro destinatário destas linhas.
Quando afirmei, por exemplo, que o mais importante para nossa incipiente democracia é que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário vivam em paz, quis dizer que é desejável que sejam harmônicos e independentes, além de obedientes a nossa Constituição Federal. Isso não significa que ela não possa jamais ser emendada. Pode, sim, mas pelo Poder que a promulgou. É essencial que a Constituição seja o nosso norte. Como afirmei e aqui novamente reitero, ela dará conta do recado.
É verdade que o país nunca passou, simultaneamente, por inúmeras crises graves e profundas. O momento, todavia, requer bombeiros, e não incendiários. Não foi a operação Lava Jato que tornou público esse quadro cruel. Amedrontador. O ambiente político já vinha se deteriorando desde o mensalão, no governo do ex-presidente Lula. E a ex-presidente Dilma Rousseff conseguiu piorar a política e a economia. O presidente Temer poderia tê-lo administrado se outros fossem os atores políticos de seu governo. Nomeou equipe econômica competente na certeza de que, com ela, resolveria todos os problemas. Esqueceu-se de que não se governa mantendo ao lado apenas amigos e correligionários.
O Ministério Público acha que só ele será capaz de salvar o país da corrupção. Um enorme equívoco. Ministros do Supremo Tribunal Federal botam lenha na fogueira e se desentendem entre eles. Esquecem-se de que têm missão política e, por isso, devem funcionar, em certas circunstâncias, como Poder moderador. Como já aconteceu.
Equivocadas foram, leitor, tanto a decisão monocrática do ministro Marco Aurélio Mello – que quis afastar o senador Renan Calheiros (atenção: o que está em jogo é a instituição, não o senador; este está com os dias contados…) não só da linha de substituição do presidente da República, mas, igualmente, da presidência do Senado – quanto a monocrática decisão do ministro Luiz Fux – que considera que “cumpriu seu dever de ofício” ao mandar anular a tramitação do projeto das dez medidas contra a corrupção, que nem sequer se tornara lei. Projeto, aliás, diga-se de passagem, que continha desvairados absurdos!
Penso que pior do que o fato tem sido sua versão. Um cidadão informado sabe que, neste cipoal de investigações, acusações, colaborações e condenações, há distinções que precisam ser feitas. Está certo o jornalista Ricardo Noblat: “Caixa 2 é crime ou infração eleitoral. Uma coisa ou outra merece ser castigada. Mas não é justo que se puna quem se valeu de caixa 2 só para se eleger como se punirá quem se enriqueceu à custa dele, ou quem retribuiu o caixa 2 com contratos públicos superfaturados ou não, ou quem recebeu propina”.
Só isso já daria conta de baixar a bola de muita gente.
Feliz Natal, leitor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário