Saint-John Perse, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1960, afirmou, com extrema sensibilidade e sabedoria: “... se a poesia não é, como se disse, o ‘real absoluto’, é certamente a mais próxima apreensão desse real, nesse limite extremo de cumplicidade em que, no poema, o real parece informar-se a si mesmo”.
Os tempos atuais estão tão confusos que irrompe a convicção da necessidade de voltarmos a olhar as estrelas em busca de inspiração. São tantas as informações que se recebe que já não se sabe discernir o que é importante para a felicidade dos povos.
Muito mais importante do que taxas de inflação, de criminalidade, índices de desemprego, indicadores de poupança e de desenvolvimento, de leis que regulamentem as migrações e o comercio internacional, é o conhecimento e a crença arraigada nos valores éticos explicitados ao longo dos séculos, por uma humanidade sequiosa de poder viver em sociedades que proporcionem, a todos, oportunidades de felicidade, justiça, liberdade e segurança. Tais progressivas explicitações da democracia, fruto da liberdade e da racionalidade humana, são as fontes seguras de permanente inspiração para o aperfeiçoamento do viver coletivo. Na procura de soluções para os graves problemas que se avolumam, precisamos voltar a sonhar, centrando nossas atenções nas estrelas do céu social, os seguros faróis dos povos. Recorrer a elas nestes momentos de confusão e perplexidade, não como mais uma alternativa a ser tentada, mas como a única verdadeira solução possível.
As religiões cristãs deveriam estar à frente desta campanha de recuperação do espirito do “Humanismo integral”. Os historiadores são praticamente unânimes em ensinar que a Europa, berço da nossa civilização ocidental, é culturalmente, nos seus fundamentos, essencialmente judaico-cristã. Resta recuperar esta fonte inicial de inspiração para, só então, procurarmos equacionar, com lógica, os problemas concretos das nossas sociedades.
Os sonhos coletivos necessariamente precedem às ações políticas. É importante que possamos voltar a sonhar com fé, alegria e esperanças.
Enquanto não realizarmos uma revolução educacional de qualidade e uma reforma política radical — que possibilite o mais efetivo acesso ao poder dos melhores e mais competentes candidatos, principalmente no Poder Legislativo (“o supremo poder”), recuperando a prevalência, no ambiente cultural dos nossos dias, dos pressupostos éticos que conformaram a nossa civilização — não sairemos da miserável, desesperançada e triste situação em que atualmente vivemos.
Eurico Borba
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